Carros de luxo são furtados em poucos segundos, enquanto peças valiosas transportadas em caminhões lotados circulam pelas estradas do Brasil sem levantar suspeitas. O destino: lojas e compradores que fazem parte do esquema de receptação. O Fantástico da Rede Globo teve acesso a vídeos e trocas de mensagens de uma quadrilha especializada em furtar caminhonetes, que depois seguiam para Goiás - estado se transformou, segundo a polícia, num polo de desmanches.
Vila Canaã: o epicentro do comércio ilegal de peças de automotivas
Na Vila Canaã, em Goiânia, segundo a polícia, funciona um dos maiores comércios clandestinos de peças de carros, motos e caminhões do país. "Isso aqui, por muito tempo, é conhecido como 'Robauto'. Vem peças de São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, e daqui, acaba indo pra outros estados", destaca Waldir Soares, presidente do Detran/GO. A área é conhecida pelas autoridades como um polo de recebimento de componentes veiculares adulterados. "Uma verdadeira organização criminosa composta por lojistas, por pessoas que furtam, roubam", aponta Rafaela Azzi, delegada da Polícia Civil. Ao longo das últimas décadas, quadrilhas se instalaram no local para revender peças automotivas roubadas. Segundo o Detran de Goiás, são cerca de mil lojas, e somente pouco mais de 20% dos estabelecimentos estão legalizados.
A operação
Os investigadores também encontraram listas de encomendas de peças e carros roubados nos celulares de suspeitos que foram presos. "Listas em que aparecem o modelo do veículo, o ano, com o que equipado, e a partir disto existe um valor. Para estes lojistas, especialmente esses lojistas voltados à atividade criminosa", destaca a delegada Rafaela.
Na operação realizada pelas polícias civil e rodoviária federal no fim de janeiro, 27 pessoas foram presas em Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. Depois da operação, a Polícia Rodoviária Federal já percebeu uma mudança de comportamento dos criminosos: agora, veículos furtados ou roubados em outros estados não estão mais chegando desmontados em Goiás. Isso exige um olhar diferente dos agentes da PRF. "Aqui é no olho. É treina o olhar para tentar identificar o elemento que foi adulterado", explica Thiago Rodovalho, policial rodoviário federal. O Detran de Goiás diz que vai aumentar as fiscalizações e lembra que vender peças usadas não é crime. Crime é comercializar peças roubadas.