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Novembro de 2024
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Educação

Prestes a voltar às aulas, professores e estudantes falam das expectativas e preocupações com o retorno

Professores que vivem em cidades sem hospitais e respiradores temem o aumento no número de casos. Alunas dizem que estão ansiosas pelo retorno, mas sentem receio por causa do risco de contaminação

Foto: Sejane Tavares/Arquivo Pessoal
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Professora Sejane Tavares trabalha em escola do município de Recursolândia

23 julho, 2020

Palmas (TO) - Enquanto o Tocantins avança nos números da Covid-19, com 18,8 mil casos e 315 mortes confirmados até  quarta-feira (22/7), professores e estudantes da rede estadual se preparam para voltar às aulas, com a data prevista para o dia 3 de agosto. Para quem mora em cidades sem hospitais e sem respiradores, o retorno espalha sentimento de apreensão. "Tememos pela nossa vida, da nossa família e dos nossos alunos", disse a professora Sejane Tavares Silva, do município de Recursolândia. Nove estados e o DF têm previsão de retomada das aulas presenciais na rede pública estadual. Estudantes, pais e professores narram 'apagão' do ensino público na pandemia. Para saber das expectativas sobre o retorno, o G1 também ouviu estudantes. Distantes das salas de aula há mais de 120 dias, eles admitem que sentem saudades e preferem o ensino presencial. Mas, por outro lado, sentem medo de serem contaminados e transmitir a Covid-19 para a família. As aulas foram suspensas no dia 16 de março pelo governo estadual. A ideia inicial era que a suspensão durasse alguns dias, mas foi prorrogada em função do avanço da doença pelo Tocantins. Em junho, a Secretaria Estadual da Educação apresentou um cronograma para retorno das aulas presenciais. Também decidiu que os alunos da 3ª série do ensino médio teriam aulas remotas até o dia 31 de julho. O G1 questionou a secretaria sobre as providências que serão adotadas, como o uso de máscaras e de protetores faciais; como será a realização de intervalos e como o professor conseguirá se dividir entre as atividades e as aulas. No entanto, até a publicação da reportagem, não houve uma resposta. O cronograma para o retorno funcionará da seguinte forma: Metade dos alunos da 3ª série do ensino médio volta para as escolas no dia 3 de agosto. A outra metade fica em casa e na semana seguinte, a partir de 10 de agosto, os alunos revezam. Quem estiver em casa fará atividades que serão validadas pelos professores na semana seguinte, quanto o aluno volta para as aulas presenciais. Após as duas primeiras semanas deste modelo será feita uma avaliação sobre a eficiência do modelo. Nas semanas seguintes, os demais alunos voltam de forma gradual, no modelo de revezamento.

Veja como fica o cronograma


29 de junho a 31 de julho – aulas não presenciais para os 16.845 estudantes da 3ª série do Ensino Médio
3 de agosto – início das aulas presenciais para 50% dos estudantes da 3ª série do Ensino Médio
10 de agosto – revezamento com os outros 50% dos estudantes da 3ª série do Ensino Médio
17 de agosto – início das aulas presenciais para 50% dos estudantes da 1ª e 2ª série do Ensino Médio
24 de agosto – revezamento com os outros 50% dos estudantes da 1ª e 2ª série do Ensino Médio
31 de agosto – início das aulas presenciais para 50% dos estudantes do Ensino Fundamental
9 de setembro – revezamento com os outros 50% dos estudantes do Ensino Fundamental
Até 31 de janeiro de 2021 – fim do ano letivo 2020
Fevereiro de 2021 – início do ano letivo 2021


Sem hospital, sem respiradores, sem boas estradas...
Sejane Tavares Silva é professora há cinco anos. Trabalha na Escola Estadual Recurso I, no município de Recursolândia, com menos de 5 mil habitantes, localizado na região nordeste do Tocantins. A cidade não tem hospitais e parte da rodovia que lhe dá acesso é sem pavimentação. De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde, até esta quarta-feira, eram seis casos da doença confirmados na cidade.A educadora dá aulas para alunos do ensino fundamental e médio. Ela confessa que está bastante apreensiva e preocupada com o retorno das atividades de forma presencial. "Aqui surgiram novos casos. É cidade do interior. Não dispomos de hospitais e nem de respiradores. Nossa cidade é distante da capital e de outras cidades que têm aparato hospitalar. Nossas estradas não contribuem, parte da rodovia que dá acesso, não é pavimentada e está degradada. Se alguém precisar de respirador, até chegar em uma cidade com algum, pode demorar. A gente teme pela nossa vida, da nossa família e a de nossos alunos". Sejane conta que os professores estão sendo preparados para o retorno, com orientações, encontros virtuais e lives. A recomendação é a mesma do Ministério da Saúde, usar máscaras, álcool em gel e manter o distanciamento. Mas, a preocupação continua. "Nós que lidamos com sala de aula, conhecemos nossos alunos. Tem bastante tempo que eles estão distantes dos colegas. Não existe isso, de não ter contato entre professor e aluno na sala. Mas estamos trabalhando para tentar passar tranquilidade para nossos alunos. Estamos apreensivos, tentando passar uma calma aos alunos, que a gente mesmo não tem". Araguatins, região norte do estado, tem menos de 40 mil habitantes. Apesar de pequena, ela está entre as cidades com maior quantidade de casos. Até esta quarta-feira, eram 282 diagnosticados e 19 mortes, segundo a Secretaria Estadual da Saúde. Uma professora do Colégio Militar, que preferiu não se identificar, disse que a realidade da cidade é preocupante. Isso porque o município faz parte de uma região conhecida como Bico do Papagaio, que concentra a maioria dos casos registrados no Tocantins. "Os casos só têm aumentado. A saúde aqui é precária, faltam respiradores e tudo o que precisa para atender pacientes, as condições de atendimento são precárias. Aqui não tem UTI, apenas o hospital municipal, que atende pacientes com sintomas leves. Os que estão em estado grave são levados para Araguaína ou Palmas. A informação que chega até nós é que Araguaína está com 90% dos leitos de UTI lotados". Ainda conforme a educadora, as salas de aula da escola são pequenas e com pouca ventilação. Além disso, ela gostaria que a opinião dos educadores tivesse sido consultada. "Às vezes o aluno tem pessoas doentes em casa, temos professores com comorbidades. A nossa opinião não foi consultada. Queremos saber: o que o estado vai oferecer para garantir a segurança dos professores e alunos? Eles vão aferir temperatura? Em quais condições vamos trabalhar? É uma responsabilidade muito grande", opinou. Ela disse que a Secretaria Estadual da Educação ainda não repassou as orientações e o treinamento necessários para receber os alunos. As aulas devem iniciar em pouco mais de 10 dias.O amor pela escola e o receio da contaminação. Ana Clara Campelo, de 15 anos, começou o ano de 2020 com muitas expectativas. Ela está prestes a concluir o ensino médio na Escola Estadual Frederico José Pedreira Neto, localizada na Arse 12, plano diretor sul da capital.Por enquanto, o estudo é pela internet, mas as aulas remotas não satisfazem a estudante. "A gente percebe que a escola está se esforçando para que os alunos tenham as aulas e as atividades remotas. Temos acesso a uma plataforma com o roteiro da semana, o qual especifica as atividades, e os vídeos. Temos aulas no Google Meet com professores, todos os dias, por cerca de 40 minutos, para tirarmos dúvidas. As atividades, nós enviamos por e-mail. Para quem estuda e corre atrás, dá certo, mas eu não gosto de aula online", comentou. O retorno das aulas está próximo e a estudante fica com o sentimento dividido, entre o desejo pelo retorno e o medo de ser contaminada. "Eu acho importante a escola. Estou no último ano do ensino médio, eu coloquei expectativa nesse ano, deu uma desanimada na questão do Enem. Se todos tomarem cuidado, acho que dá para voltar, mas fico com o pé atrás. A escola tem muitos alunos, a gente não sabe o que pode acontecer". O sentimento da estudante Ana Luiza Mendes de Resende, 15 anos, é parecido. Ela cursa a 1ª série do ensino médio na Escola Estadual Professora Elizângela Glória Cardoso e também se prepara para voltar a partir do dia 17 de agosto. Durante esses meses sem aulas presenciais, ela tem se dedicado a estudar o conteúdo pela internet, por meio de videoaulas. Também faz as atividades complementares que foram entregues pela secretaria estadual. Acostumada a estar na escola em tempo integral, a adolescente sente falta das aulas, professores e colegas de classe. Ela diz estar ansiosa pelo retorno, mas por outro lado, afirma sentir medo do risco da disseminação da doença. "Estou com receio e medo de tudo o que ainda estamos vivendo, principalmente porque o ensino é integral. Mas essa volta, por meio do revezamento, tem tudo para dar certo, porque vai diminuir os estudantes, vai ter distanciamento entre as cadeiras, as aulas podem ser mais proveitosas por causa da quantidade reduzida de alunos na sala. Eu amo estar na escola. É outro nível o estudo presencial. Mas, cada um tem que ficar atento para não quebrar as regras e pensar que 'tem um pai e uma mãe em casa'".

Fontes: G1 Tocantins / www.poptvnews.com.br