A maior parte dos tocantineses vivem em casa como tipo de domicílio. Mas o número de pessoas que optaram por morar em apartamentos pulou de 12.836 em 2010 para 38.120. É o que mostrou os dados do Censo 2022, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados são relativos às características de domicílios e a quantidade de pessoas em 2022 nesse tipo de moradia representa 2,5% da população do estado. O número aumentou 196% em 12 anos. Já no ano 2000, segundo o IBGE, apenas 2.582 tocantinenses moravam em apartamento.
Mudança e adaptação
Demerval Sousa Braga Barroso, de 66 anos, precisou fazer essa mudança após a morte da esposa por Covid-19, em 2021. Farmacêutico bioquímico aposentado e musicoterapeuta, o idoso já morou em apartamento em outra oportunidade e sente falta de viver em casa. "Até então eu não pensava jamais voltar a morar em apartamento, pois já tinha acontecido quando residia em Belém (PA). Na verdade eu sinto falta da minha casa, pois ela era muito espaçosa, com quintal, garagem coberta e um muro alto", contou. Mesmo preferindo a casa, precisou se adaptar à nova condição. "Não tinha receio de ouvir música num volume que perturbasse vizinhos, ter a horta com rosa do deserto, que minha esposa gostava de cuidar, os vizinhos que sempre conversávamos ao anoitecer. Enfim, hoje tudo está diferente aqui no apartamento, então tive que me adaptar à nova moradia", afirmou. Já a servidora pública Eliana Santos, de 62 anos, fez essa mudança depois de morar em casa por 25 anos. Em julho de 2023, resolveu vender a casa que morava, na região sul de Palmas, e comprou um apartamento no centro. Para ela, a segurança foi o principal motivo. "Me sentia muito insegura morando só em uma casa. Não conseguia dormir com tranquilidade com medo de invasão. Solidão também. Me sentia sozinha por morar em uma casa com vizinhos nada sociáveis e ficava limitada para viagens, já que dependia de ter uma pessoa para cuidar da casa", explicou. Além da insegurança, a distância do trabalho também foi uma questão para a servidora: "Como eu morava longe do centro da cidade acabava que meu dia ficava muito cansativo para ir e voltar. A opção de um apartamento em condomínio resolveu todos os problemas".
Casas são maioria
O Censo 2022 mostrou também que 1.435.955 tocantinenses ainda moram em casas, o que representa 95,3% da população. Depois de apartamento, que é a segunda opção, a terceira categoria de moradia é casa de vila ou em condomínio, com 26.722 pessoas (1,77%). Além desses, 216 pessoas estão em em habitações em casas de cômodos ou cortiços (0,01%). No cenário nacional, a pesquisa do IBGE apontou que o Distrito Federal lidera ranking da população que reside em apartamento, com 28,7%. Apesar do crescimento dos últimos 12 anos, o Tocantins aparece na última posição, com a menor proporção de pessoas nesse tipo de domicílio proporcionalmente.
Maiores cidades
Conforme o IBGE, no recorte sobre os tipos de domicílios nas três maiores cidades do estado, Palmas tem mais moradores que optaram por apartamentos. Confira:
Moradores de apartamento nas maiores cidades do TO
Ano do Censo Palmas Araguaína Gurupi
2000 969 622 347
2010 9.249 1.969 617
2022 33.381 2.151 1.218
Fonte: IBGE
Tendência das grandes cidades
Morar em apartamento é uma tendência das grandes cidades, de acordo com João Paulo Tavares, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Tocantins (Ademi - TO), para facilitar o acesso às atividades do dia a dia, como ir para o trabalho ou levar os filho na escola. "É natural que as famílias busquem morar em apartamento porque é através de um apartamento que você tem, de uma forma mais acessível, a possibilidade de morar nesses locais, que na sua grande maioria são locais já bem valorizados", explicou. Além disso, para o presidente da Ademi-TO, o valor de uma casa geralmente é maior do que um apartamento. "Você adquirir um terreno para poder construir a sua casa em um local bem valorizado tem um custo muito maior do que adquirir um apartamento, onde um grupo de pessoas adquiriram suas unidades junto a uma construtora, que realizou a execução do empreendimento em uma localização nobre. Então você diluiu toda essa despesa com um maior número de pessoas. Verificamos também uma tendência muito forte em capitais, motivada pela questão de segurança", pontuou João Paulo. Sobre Palmas ter o maior número de residentes em apartamento, o presidente comentou também que as capitais geralmente possuem o valor do metro quadrado mais alto que as demais cidades do interior. Por isso, há quem prefira morar em regiões centrais em apartamento, para poder ficar perto de onde trabalha, estuda ou costuma fazer as demais atividades. "Esse investimento tende a ser mais acessível quando você dilui à moradia aquele ambiente, aquele espaço ou terreno com maior número de pessoas. Então, naturalmente, Palmas vai ser a cidade onde nós enxergaremos sempre um maior número de famílias morando em apartamento", disse. Sobre a preferência por aluguel ou compra de imóveis, o presidente da Ademi destacou que a primeira opção é a mais disputada na capital. "Vivemos em uma cidade onde poucas moradias foram construídas no decorrer dos 30 anos, quando se comparado à quantidade de pessoas que chegou e que não para de chegar nessa cidade. Então o aluguel tem uma grande força no mercado imobiliário", concluiu, mas alertando que quando se trata de compra, o valor das prestações se aproxima dos preços de aluguel.