Brener Nunes/Governo do Tocantins
Palmas (TO) - Os cuidados com a saúde masculina ainda são pouco discutidos na nossa sociedade e, por isso, muitos homens acabam ignorando os exames preventivos e sofrendo graves consequências. De acordo com um levantamento feito pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), em 2018, 250 novos casos de câncer de próstata foram diagnosticados no Tocantins; já neste ano, até o mês de outubro, foram 136 casos. Em relação à quantidade de óbitos em decorrência da doença, foram registradas, no Tocantins, 139 mortes em 2018 e 99 neste ano (até outubro). Debater essa questão de forma mais profunda é uma das propostas do movimento Novembro Azul, criado pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em 2008, e que visa chamar a atenção para a quebra de preconceitos e tabus sobre a saúde do homem, além de promover debates expondo a importância dos exames preventivos. O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens, atrás apenas do de pele não-melanoma. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), referentes à 2018, no Brasil foram confirmados 68.220 casos de câncer de próstata , equivalente a 31,7% dos diagnósticos de câncer no país.
Sintomas
Segundo o urologista Adelmo Negre, a próstata é um órgão que faz parte do sistema genito-urinário masculino do sistema reprodutor e também faz parte do sistema urinário, porque a uretra, por onde passa a urina, passa no interior da próstata. Conforme o Inca, na fase inicial, o câncer de próstata pode não apresentar sintomas e, quando apresenta, os mais comuns são dificuldade de urinar; demora em começar e terminar de urinar; sangue na urina; diminuição do jato de urina; necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite. “Quando estes sintomas aparecem em relação ao câncer é porque a doença já está em um estado avançado. A principal orientação que nós damos é que no estágio inicial ele não apresenta nenhum sintoma, pois é um nódulo no interior da próstata e não afeta nada. Em sua fase inicial há maior chance de cura. Por isso, precisamos avaliar o paciente e fazer o diagnóstico precoce antes do aparecimento dos primeiros sintomas”, explicou o urologista.
Exames
O temido e falado exame de toque retal na próstata tem a duração de apenas alguns segundos. A simplicidade do exame contrasta com a baixa procura pela especialidade médica de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). “Nós da Sociedade Brasileira de Urologia recomendamos que a partir dos 50 anos de idade o homem procure um urologista. Nessa consulta, será feita uma entrevista, o exame físico [toque retal] e o exame do PSA [Antígeno Prostático Específico]”, afirmou o urologista Adelmo Negre. De acordo com o médico, estes exames podem começar aos 45 anos de idade se o paciente tiver algum fator de risco para o câncer de próstata. Por exemplo, homens negros têm maiores chances de ter o câncer; homens que têm familiar de primeiro grau com a doença, e pacientes obesos, que têm a chance de ter um tumor um pouco mais agressivo. O exame de toque não é o único que deve ser realizado. A medição da taxa de PSA, uma enzima produzida pela próstata que permite a liquidez do sêmen, também é um indicativo para o surgimento da doença. Um exame não substitui o outro e, em alguns casos, mesmo com a taxa normal de PSA o paciente é diagnosticado com a doença.
Tratamento
O urologista Adelmo Negre explica que em relação ao tratamento irá depender do grau do tumor, da localização, se ele está localmente avançado, se já atingiu órgãos vizinhos da próstata ou se é um tumor avançado, ou seja, com metástase. Adelmo Negre afirma ainda que existem opções de tratamentos mais radicais. “Optamos por um tratamento radical, onde temos a chance de curar o paciente. Pode fazer principalmente a cirurgia, que é a prostatectomia radical. A radioterapia externa ou conformacional também trata a doença de forma adequada. Temos terapias com bloqueio hormonal, que são remédios que são utilizados para controlar o câncer, e temos também a quimioterapia”.
Prevenção
Adelmo explica que a boa qualidade de vida do homem pode influenciar para que ele seja mais saudável. “Combater o estresse e evitar hábitos que prejudiquem nosso corpo de uma forma geral, como a bebida alcoólica e o cigarro, são aconselháveis. Com isso, você consegue diminuir a incidência de qualquer tipo de câncer, não só o de próstata em si, porque o câncer de próstata dificilmente vai ter um fator externo que seja sua causa. Ele é mais uma alteração genética, do gene causador deste câncer”. O urologista afirma que todos os homens, independentes da idade, devem ir ao urologista. “Os homens devem procurar essa especialidade médica ao menos uma vez por ano. Os adolescentes também devem ir para orientação sobre o desenvolvimento sexual, as doenças sexualmente transmissíveis, os órgãos genitais, e sobre sexualidade”.
História de vida
O empresário Ricardo Garcia, de 55 anos, relatou sua história de luta contra o câncer de próstata. Ele contou que em sua família há histórico de câncer, mas não de próstata. “Sempre tive uma vida saudável. Não existia um histórico para causar a doença. Isso já é um alerta para ter essa consciência que pode acontecer com qualquer um”, afirmou. Ricardo conta que o câncer estava no grau 7, que segundo ele, vai até o 10. “No meu caso, não tinha a opção de quimioterapia, devido ao grau da doença. O médico indicou a radioterapia por dois meses internado e com muitas sequelas que iriam tirar minha qualidade de vida. Se não resolvesse, o processo de cirurgia poderia ser bem complicado. Após isso, o médico indicou a prostatectomia radical convencional e uma linfadenotectomia pélvica, que retira 100% da próstata e das linfas, faz-se uma biópsia do local para checar se não houve uma metástase”, relatou. “Em cinco anos tenho que ter um controle total, sem alteração. Hoje, meu PSA é 0.05, graças a Deus. Ele era 5.42, e estou neste processo, mas muita coisa colaborou, principalmente, minha família ao meu lado”, afirmou Ricardo Garcia. Ele garante que, com 55 anos está voltando a sua vida normal. “Fiz fisioterapias pélvicas e exercícios, fui retornando as minhas atividades gradualmente. Existe um exercício de paciência constante. Minha vida sexual está normal, a incontinência urinária acabou com 60 dias”, concluiu.