O desaparecimento de Samylla Lorrany Marques de Sousa, de 23 anos, completou quatro anos em novembro deste ano. A jovem não foi mais vista desde uma operação da 1º Divisão Especializada de Repressão a Narcóticos de Palmas (Denac) junto com a Polícia Militar, em 2019, onde dois homens morreram, incluindo o namorado de Samylla. "Sempre digo que não há um luto pior do que de um desaparecimento. Porque por mais que a gente sabe que não está mais entre nós, também tem esperança de que esteja viva. Essa dúvida nos consome, em tudo que passa na cabeça pensando como ela morreu, se sofreu muito, o que fizeram com ela. É muito doloroso", contou a mãe de Samylla, Dinalva Soares Sousa. A operação policial, sem mandado judicial, aconteceu em uma quitinete no Jardim Aureny III, na região sul de Palmas. No local, moravam Samylla e o namorado Brian Felipe. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), Brian era suspeito de tráfico de drogas, homicídios e teria recebido os policiais a tiros. Adagilson Taveira Bezerra, de 24 anos também morreu no local. A polícia diz que ele era cúmplice de Brian. Os policiais envolvidos alegaram legítima defesa após serem recebidos a tiros, mas a família questiona e alega que houve uma execução. A TV Anhanguera teve acesso a mensagens enviadas por Samylla antes da polícia chegar ao local, a jovem havia contado à mãe que o namorado estava em casa dormindo. "Ela sempre dava notícia de onde ela ia, o que fazia, sempre. Ela nunca ficou um tempo sem dar notícia pra mim [sic]", disse a mãe. Dois inquéritos chegaram a ser abertos pela polícia, um para investigar as mortes e outro sobre o desaparecimento de Samylla. A TV Anhanguera teve acesso a esses documentos. O processo que analisa a morte dos dois jovens está na delegacia de homicídios e foi adiado várias vezes. Já a investigação sobre o desaparecimento de Samylla está na delegacia de assuntos internos da SSP, pois envolve policiais civis. Testemunhas afirmam que Samylla foi levada por policiais e desde então nunca mais foi vista. "Quatro anos de muita dor e sofrimento, revolta. Até agora nada. Não tenho resposta nenhuma", lamenta a mãe. Durante a Operação Caninana da Polícia Federal, em junho do ano passado, foi descoberto que o celular de Brian estava com um dos policiais investigados por envolvimento em um suposto grupo de extermínio. Os investigados aguardam julgamento em liberdade. O advogado de defesa dos policiais, Antônio Ianowich, afirma que eles não sabem onde Samylla está. "A Denac investigava esses indivíduos, mas a operação que culminou com a morte de alguns traficantes e com esse suporto desaparecimento dessa pessoa não foi operação da Denac. Isso inclusive foi investigado. Foi uma operação da Polícia Militar, com informação da Denac, mas sem a partição efetiva dos meus clientes. Eles não têm como fazer ilações a respeito de onde possa se encontrar essa pessoa e da mesma forma eles não tem nada a dizer sobre o evento", disse. A mãe cobra respostas. "Sofrimento, revolta e indignação pelo descaso. Por mais que luto para encontrar minha filha e saber a verdade, é como se toda a minha luta é em vão. Vivo a base de remédio para depressão e ansiedade desde que minha filha desapareceu. Eu preciso de uma resposta", diz Dinalva Soares Sousa.
O que dizem o MPE e a SSP
Nota do Ministério Público do Tocantins
Sobre o desaparecimento de Samylla Lorrany Marques, 23 anos, ocorrido em 2019, o Ministério Público do Tocantins informa que vem acompanhando o caso. Recentemente a 2ª Promotoria de Justiça da Capital acionou a Corregedoria da Polícia Civil sobre o andamento do Inquérito Policial. O MPTO já havia solicitado informações sobre o andamento do caso à delegacia responsável pelas investigações, mas não obteve respostas. A promotoria também instaurou um procedimento para monitorar as medidas adotadas pela Corregedoria.
Nota da Secretaria de Segurança Pública do Tocantins
A Secretaria da Segurança Pública do Tocantins (SSP-TO) esclarece que o inquérito que apura o desaparecimento da jovem Samylla Lorrany Marques de Sousa não está parado. As diligências seguem sendo realizadas, mas a investigação corre em sigilo para não atrapalhar o andamento dos trabalhos. Vale ressaltar que o inquérito foi instaurado ainda no ano de 2019, pela Delegacia Especializada de Polícia Interestadual, Capturas e Desaparecidos (POLINTER - Palmas), sendo encaminhado para a 1ª Divisão Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para apurar possível crime de homicídio. Em dezembro de 2022 foi redistribuído para a Delegacia de Assuntos Internos (DAI) em razão da presença de policial civil no local dos fatos. A SSP-TO destaca que após a conclusão do inquérito, o procedimento será encaminhado ao Poder Judiciário com vistas ao Ministério Público, para adoção de medidas legais cabíveis e necessárias. Quanto ao inquérito que apura o duplo homicídio na data dos fatos, o mesmo segue sendo investigado. Por fim, a SSP-TO reitera que está empreendendo todos os esforços no sentido de elucidar o desaparecimento da jovem, dando uma resposta à família e à sociedade. Novas informações serão repassadas após a conclusão da apuração.