A decisão do Supremo Tribunal Federal de anular as condenações do ex-presidente Lula no âmbito da Operação Lava Jato mexeu as peças para as eleições de 2022. Com os direitos políticos recuperados, o petista reafirma o desejo de ser candidato novamente.Caso a promessa se cumpra, sua vaga no segundo turno está praticamente garantida. O outro posto, avaliam especialistas consultados por CartaCapital, será disputado entre o atual presidente Jair Bolsonaro e algum candidato de centro, caso haja unidade em torno de nome.Na quinta-feira (31/3), seis potenciais candidatos assinaram um documento chamado Manifesto pela Consciência Democrática, em que rechaçam o “autoritarismo” e defendem a “liberdade”. Com participação de Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Amoêdo (Novo) e Luciano Huck, o documento foi visto como um ensaio para romper a polarização entre Lula e Bolsonaro. A segunda vaga [para o 2º turno] será disputada entre Bolsonaro e um candidato de centro. Bolsonaro deve ter 20% dos votos, porque ele perdeu quatro grupos importantes: os lava-jatistas, os liberais, os anti-petistas e os conservadores”, avalia avalia Márcio Coimbra, coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília e diretor-executivo do Interlegis no Senado Federal. Para ele, “somadas [as intenções de voto em] Moro, Huck, Doria e Leite se tem os mesmos 20% do Bolsonaro. Caso haja uma união de centro, há a possibilidade de tirar o presidente do segundo turno”, aponta. A opinião é compartilhada pelo cientista político Cláudio Couto. “O fator determinante vai ser o quanto Bolsonaro vai ser desgastar”, pois pode-se “criar uma oportunidade para a criação de uma candidatura de centro ou de direita moderada. Se for concretizada, podemos ter uma disputa entre Lula e um esse candidato”. Para Coimbra, o petista parte de um piso de 29% dos votos no 1º turno, o mesmo alcançado por Fernando Haddad em 2018. “A eleição, certamente, tem um candidato no segundo turno que é o Lula. Temos que considerar que o lulismo é um fenômeno maior que o petismo e que não vai ter onda Bolsonaro, nem Lava Jato. O Lula vai ter de 29% para mais”, afirma. “O Bolsonaro não está garantido no 2º turno, pois tem contra ele a pandemia e a economia”, acrescenta o professor, que prossegue: “Na melhor das hipóteses, vamos terminar de vacinar os brasileiros em janeiro ou fevereiro de 2022. Isso significa que a retomada da economia só aparecerá em setembro ou outubro, perto da eleição. Não vai ter tempo do Bolsonaro conseguir capitalizar a recuperação da economia”, diz. Couto aposta que, em 2022, a exemplo do que aconteceu nas eleições municipais de 2020, o discurso da anti-política e do combate à corrupção perde força. “O próprio desastre do governo Bolsonaro fez com que o eleitor sinta receio e se volte para para o candidato tradicional”, opina. Coimbra vai pela mesma linha. “Para o eleitor, é muito mais importante hoje ter gestores. Eles perceberam que a nova política levou ao poder pessoas que não têm capacidade de gestão e a pandemia escancarou isso.” E reforça: “A busca será por nomes mais experientes e tradicionais, que têm resultados.”
Lula deve buscar o centro
O manifesto pela democracia, assinado pelos presidenciáveis, foi rebatido por Lula no dia seguinte à divulgação. “Todos eles tiveram a chance em 2018 de deixar a democracia garantida votando no Haddad”, afirmou em entrevista à rádio BandNews FM. “Essa gente preferiu votar no Bolsonaro. O Ciro só foi para Paris, não votou. Eu acho normal que cada um procure o seu rearranjo político”, completou o petista.O caminho natural do ex-presidente, diz Couto, é buscar ampliar a sua coalização. “Está se criando um ambiente propício para a candidatura do Lula como a candidatura mais ampla, mas tem que reduzir a resistência que existe a ele em certos setores da sociedade.
Fontes: Carta Capital / www.poptvnews.com.br