Quarta-feira, 27 de
Novembro de 2024
Direito & Justiça

Laranjas

MP diz que Afipe já transferiu R$ 34 milhões a empresas 'laranjas' e elas são descobertas 'todos os dias'

Promotoria detectou durante a investigação a criação de um esquema de abertura de empresas, ao longo do tempo, para serem usadas como "laranjas"

Foto: Reprodução/Instagram
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Padre Robson Oliveira Pereira

11 outubro, 2020

Goiânia (GO) -  Do suposto desvio de dinheiro ofertado por fiéis à Associação Filhos do Pai do Eterno (Afipe), do qual o Ministério Público de Goiás (MP-GO) investigava R$ 120 milhões movimentados pelo padre Robson de Oliveira, o promotor Sandro Haldfeld identificou a criação de um esquema de abertura de empresas, ao longo do tempo, para serem usadas como "laranjas" em aquisições de bens imóveis que se desviavam da finalidade da instituição. Essas empresas teriam recebido vultuosos repasses de R$ 34 milhões da Afipe, segundo o promotor. O padre Robson sempre negou qualquer irregularidade enquanto esteve à frente da Afipe, que é responsável pelo Santuário Basílica de Trindade, o único no mundo dedicado ao Divino Pai Eterno, segundo o IBGE. O G1 procurou a defesa do padre às 8h40,  domingo (11/10), e aguarda retorno. No decorrer da investigação, o promotor afirma que detectava novas empresas usadas como "laranjas" quase todos os dias. A apuração foi paralisada há cerca de uma semana após a defesa do padre Robson conseguir frear os trabalhos dentro do Tribunal de Justiça de Goiás por meio de um habeas corpus. "Houve a criação de esquema de empresas no nome de laranjas. Foram transferidos para essas empresas R$ 34 milhões. Mas quase todos os dias a gente descobre uma empresa nova em nome de laranjas", informa o promotor. O MP investigava se R$ 120 milhões que deveriam ser destinados à construção do novo Santuário e para as ações de evangelização, estariam sendo usados para comprar, entre outros bens, casas de luxo e fazendas com valores milionários.

Entenda a operação do MP

Padre Robson gerenciava mais de R$ 20 milhões por mês
Investigação começou após hacker ameaçar expor supostos casos amorosos. A investigação do MP, chamada de Operação Vendilhões, ouviu pessoas que afirmaram ser "laranjas" no processo das criações de empresas. "Vários deles já foram ouvidos e falaram: eu era laranja, só assinava. Tem esses depoimentos", comenta Haldfeld.

Trancamento da investigação

A investigação foi interrompida na última terça-feira (6/10), por determinação do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO). Desembargadores da 1ª Câmara Criminal entenderam que não houve o crime que é alvo da apuração, neste caso, organização criminosa, lavagem de capitais e apropriação indébita. Após o trancamento da ação, o Ministério Público deve devolver os documentos apreendidos durante as apurações do caso, de acordo com a defesa do pároco. O trancamento pode ser determinado quando a Justiça entende que não houve o crime que é alvo da investigação, neste caso, organização criminosa, lavagem de capitais e apropriação indébita. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) pode recorrer para instâncias superiores, mas, se a decisão do trancamento for mantida até o trânsito em julgado - quando não há mais recurso - a ação é arquivada automaticamente. Caso contrário, o processo segue seu curso. Enquanto o trancamento estiver vigente, o padre e os demais suspeitos não podem ser investigados. Após afirmar que vai recorrer da decisão, o MP divulgou documentos que, segundo os promotores de Justiça, reforçam que os próprios integrantes da Afipe apontaram irregularidades na associação. O MP tem ainda, como parte do conjunto de provas, um relatório feito por um ex-diretor da Afipe, no qual ele alega ter tentado relatar algumas irregularidades, mas que obteve a seguinte resposta: "Eu sei que está errado, mas o padre [Robson] manda fazer".

Fontes: G1 Goiás / www.poptvnews.com.br