Sábado, 23 de
Novembro de 2024
Direito & Justiça

Condenação

Ginecologista é condenado a 35 anos de prisão por estuprar pacientes

Decisão é referente a quatro abusos de três mulheres, mas Nicodemos Júnior também foi denunciado por crimes sexuais contra outras 37

Foto: Divulgação/Polícia Civil
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Ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais

07 abril, 2022

O médico ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais foi condenado a 35 anos de prisão por abusar sexualmente de pacientes. A decisão foi emitida em Abadiânia, no Entorno do Distrito Federal, e assinada pelo juiz Marcos Boechat nesta quarta-feira (6). O documento se refere a quatro casos de estupro de vulnerável cometidos contra três mulheres. Segundo informações do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), Nicodemos está preso. Na decisão, o magistrado negou ao médico a possibilidade de responder ao processo em liberdade. Cabe recurso da decisão. O g1 entrou em contato com o advogado do ginecologisa, por mensagem às 16h32 desta quarta-feira, e aguarda retorno com uma posição sobre a condenação. O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) denunciou o ginecologista pelo crime de estupro contra 39 mulheres e por violação sexual contra outras três. Segundo as investigações, as vítimas são de Abadiânia e Anápolis, a 55 km de Goiânia, onde o médico atuava. Segundo o TJ-GO, como o caso corre em segredo de Justiça, não é possível informar quais são os casos que levaram a essa condenação do ginecologista.

Investigação
Nicodemos se tornou alvo de investigação depois que mulheres procuraram a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Anápolis para denunciar que foram vítimas de crimes sexuais dentro do consultório. No início foram três, mas o caso ganhou repercussão e outras vítimas se sentiram seguras para registrar os crimes. O médico foi preso pela primeira vez prisão dele foi em 29 de setembro de 2021, após as três priemeiras pacientes relatarem os abusos à Polícia Civil. Apesar do número de denúncias, o médico foi solto em 4 de outubro por decisão da Justiça, passou a ser monitorado por tornozeleira eletrônica. No entanto, mais vítimas de Abadiânia registraram ocorrências e ele foi preso novamente em 8 de outubro do mesmo ano.

Relatos de pacientes
As vítimas relatam diversos tipos de comportamento e comentários com conotações sexuais por parte do ginecologista. Uma das mulheres disse que, durante uma consulta, o médico elogiou os olhos e o órgão genital dela. Em seguida, perguntou sobre sua relação sexual com o marido. "Eu fiquei congelada e ele fazendo manipulações, isso tudo com os dois dedos introduzidos na minha vagina. Eu não consegui nem respirar no momento. É uma situação que a gente nunca espera que vai acontecer", contou. Outra paciente disse que foi abusada pelo ginecologista durante o atendimento. Ela decidiu falar sobre o caso após a prisão do médico. "Ele teve conversas inadequadas, me mostrou sites obscenos, brinquedos eróticos e tocou em mim não da forma que um ginecologista deveria tocar. Quando ele colocou minha mão na parte íntima dele, sabe?”, descreveu. Entre as denúncias, também está a da aromaterapeuta Kethlen Carneiro, de 20 anos, que procurou a Polícia Civil para relatar que foi abusada por ele quando tinha 12 anos. Durante o atendimento, segunda ela, o médico sugeriu a leitura de material pornográfico. "Ele veio me falar que eu podia começar a me masturbar. Me mostrou histórias em quadrinho pornô e vídeos. Me mandando os links e quais eu podia assistir. Depois levantou, pegou minha mão e colocou nele, na parte íntima dele", disse. Em conversa por uma rede social, outra paciente pede informações ao ginecologista sobre o uso do anel vaginal, um método contraceptivo. Em um momento, ela pergunta se ele não atrapalha a relação sexual e se o parceiro não o sentiria. O médico, então, responde: “Bom, minha namorada já usou e eu não percebi diferença alguma. Posso testar kkk. Brincadeira”.

Defesa
Nicodemos Júnior negou todos os assédios. Ele disse que comentários em aplicativos de mensagens eram "brincadeira" e admitiu que isso foi um erro. "É muito complexo. Eu brinco com algumas coisas. Às vezes, nisso, eu pequei, realmente. [...] Mas, nunca, em nenhum momento, eu toquei em uma paciente com objetivo de ter prazer sexual ou de fazê-la ter um prazer sexual, porque o objetivo ali é o exame físico", disse. Nos relatos das pacientes consta que o médico fazia muitas insinuações de cunho sexual, entre elas: "transar fortalece amizade" ou "faz o bronzeamento e me mostra". "Muitas vezes, elas falam, 'olha, doutor, eu fiz alguma coisa assim, será que vai acontecer alguma coisa?'. Um erro meu, concordo, brinco no WhatsApp, comento alguma coisa de uma forma inadequada. Concordo que eu fiz isso, nisso eu estou errado", admitiu.