p/ Marcos Hermanson / Brasil de Fato
O filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, teve seu lançamento adiado indefinidamente no Brasil. Em nota, a produtora O2 Filmes informou que a estreia do longa, prevista inicialmente para o dia 20 de novembro, foi cancelada porque os realizadores não conseguiram “cumprir os trâmites” exigidos pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). A data escolhida inicialmente para o lançamento marcaria tanto o mês em que se completam cinquenta anos do assassinato de Carlos Marighella quanto o dia da Consciência Negra.As verbas para a produção e comercialização do filme vêm do Fundo Setorial Audiovisual (FSA), administrado pela Ancine. A distribuição é da Paris Filmes. Recentemente, a agência já havia negado dois pedidos da produtora O2 Filmes referentes à “Marighella”. O primeiro dizia respeito ao reembolso de parte do dinheiro investido na produção do longa, no valor de R$ 1 milhão. O segundo pedia adiantamento de verbas de comercialização, referentes justamente ao lançamento do filme. “É impossível não pensar que existe uma articulação política para criar esse tipo de ambiente”, disse o diretor Wagner Moura à revista Época na ocasião. Ele já previa, então, que a negativa da Agência poderia atrapalhar a estreia do filme. Ao jornal O Globo, a O2 responsabilizou a demora da Ancine em ratificar o repasse de verbas do FSA.
Controle e corte de verbas
Desde o início do mandato, Jair Bolsonaro (PSL) vem declarando recorrentemente que pretende ampliar o controle sobre as produções audiovisuais brasileiras apoiadas pela Ancine. Nesta terça-feira (10), Bolsonaro afastou o presidente da agência, Christian de Castro, e outros quatro servidores. “É Bíblia embaixo do braço e que saiba 200 versículos da Bíblia”, disse o presidente, ao jornal Valor Econômico, sobre a busca do perfil do substituto para assumir a Ancine. As declarações foram feitas à jornalistas no Quartel General do Exército, em Brasília. A Agência tem orçamento anual de quase R$ 1 bilhão, e o setor do audiovisual movimenta anualmente R$ 25 bilhões. Para o ano que vem, de acordo com a proposta orçamentária encaminhada pelo Executivo ao Congresso, pode haver um corte de 43%, reduzindo a verba do FSA, gerido pela Ancine. Os recursos previsto para o Fundo em 2020 somam R$ 415,3 milhões.