Sexta-feira, 22 de
Novembro de 2024
Cultura

Opinião

O descompasso entre o ser e o ter

O que se está questionando é a falta de sensibilidade, a lavagem cerebral e a robotização que domina os dias atuais

Foto: Ilustração
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O homo sapiens está passando por um processo de desconstrução dos valores

21 junho, 2020

p/ Maria Madalena Oliveira

No 'capitalismo selvagem' que estamos vivendo, o que podemos constatar é que o  'homo sapiens' está passando por um processo de desconstrução dos valores culturais, e em nome da ânsia exacerbada pelo consumismo, está se transformando em uma nova raça: a 'homo ganancias'. Como o homo sapiens, tão distinto das demais espécies animais, alcançou sua condição atual, e qual seu futuro? É notório que os registros históricos, as conquistas de um povo, seus valores e tradições fazem parte de sua identidade e a esse conjuntos de valores imateriais damos o nome de cultura. A cultura nos permite conhecer nosso passado, para podermos entender o presente e preparar o nosso futuro. Mas, aos poucos, esse tesouro imaterial está se desintegrando mediante ao imediatismo e ao rentável, duas faces da Mais valia trazida pelo capitalismo. Se nos atermos ao que se pode dizer sobre hegemonia, podemos constatar por exemplo, que a França, berço da cultura moderna, de onde vieram grandes pensadores da atualidade e que tem como lema "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" não suportou o poderio dos Estados Unidos que tomou para si o título de detentor do poder mundial, baseado no controle financeiro [ e não cultural] da esfera global.

 Não estou aqui questionando os aspectos positivos advindos do capitalismo, de suas conquistas e avanços que beneficiam e que beneficiaram alguns povos de todos os continentes. O que se está  questionando no momento é a falta de sensibilidade, a lavagem cerebral e a robotização que domina os dias atuais, onde nós esquecemos de quem somos, de nossa história e  de nossas raízes.

Hoje, a importação da cultura dos países dominantes já se tornaram tão corriqueiras que até nos dá a falsa sensação de que o que nos é imposto é algo normal; é  como se estivéssemos sofrido uma lavagem cerebral. O imediatismo se tornou uma necessidade básica. Um exemplo que comprova essa linha de raciocínio está naquilo que é, ou que deveria ser a personificação da cultura: a televisão. Nesse veículo cultural, observa-se que os filmes enlatados e importados de Hollywood são exibidos quase todos os dias e em todos os horários.  Enquanto nossas produções  que retratam nossa vida, nosso povo e a nossa cultura, quase  não são veiculados. E sabem o porquê? Porque nosso povo não valoriza o que é seu, e por conseguinte, as que é produzido aqui não é tão valiosa quanto as produções  hollywdianas. Em resumo, nós, com nosso modernismo e querendo mostrar que somos 'antenados', preferimos ser um 'homo  ganancias', que desconhece a si próprio, não tem amor aos  seus e  a sua sociedade, mas que considera como sendo necessidade básica possuir celulares de última geração, mesmo que para isso se sacrifique financeiramente, mas que não leu nenhum livro esse ano, nem mesmo aqueles que não cobram muito poder interpretativo nem de análise. Como dizia o imortal José Gomes Sobrinho, preferem pagar a camiseta grife famosa com a inscrição em inglês 'shit' sem saber o que significa, mas menosprezam, por exemplo, nosso pequi, nossa sússia ou nossa dialeto regional e outros elementos que estão intimamente ligados ao nosso meio,  ao que somos e o que é mais sagrado: nossas raízes. 

Uma pena…não?

Maria Madalena Oliveira de Almeida Pereira, graduada em Letras e professora da rede pública de Ensino do Estado do Tocantins