O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil repudiou o ataque a tiros que deixou mais de 100 palestinos mortos durante uma distribuição de ajuda humanitária em Gaza na quinta-feira (29/2). Em nota divulgada nesta sexta (1º/3), o Itamaraty afirma que "a humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres". De acordo com a nota do MRE, "aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza". "Trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem", afirma o comunicado. “O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão”, disse o Itamaraty. Além dos 110 palestinos mortos, o número de feridos no massacre varia de 280 a 750 pessoas, segundo diferentes estimativas. As autoridades de Gaza culpam as forças israelenses pelo ataque. Israel chegou a contestar, em um primeiro momento, os relatos das autoridades do enclave, argumentando que muitos morreram pisoteados ou atropelados nas aglomerações. Entretanto, o porta-voz Daniel Hagari chegou a afirmar que soldados teriam feito "disparos de aviso" contra uma multidão porque teriam se sentido ameaçados. O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, pediu uma investigação independente sobre o massacre.
Críticas a Netanyahu
O comunicado do Itamaraty faz duras críticas ao governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Além disso, o MRE faz um apelo à comunidade internacional para intervir e evitar "novas atrocidades" em Gaza, argumentando que a falta de ação, de certa forma, encoraja o governo de Israel a persistir em ataques contra civis inocentes e a desconsiderar as normas básicas do direito humanitário internacional. "[...] A inação da comunidade internacional diante desta tragédia humanitária continua a servir como velado incentivo para que o governo Netanyahu continue a atingir civis inocentes e a ignorar regras básicas do direito humanitário internacional. Declarações cínicas e ofensivas às vítimas do incidente, feitas horas depois por alta autoridade do governo Netanyahu, devem ser a gota d’água para qualquer um que realmente acredite no valor da vida humana", diz o texto. As "declarações cínicas e ofensivas" sobre as quais o governo brasileiro se refere são do ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir. Ele deu “total apoio” ao massacre de palestinos famintos em Gaza, afirmando que a ação das forças israelenses contra a multidão desesperada foi “excelente” e ainda pediu o fim da ajuda humanitária. “A transferência de ajuda humanitária para Gaza não é apenas uma loucura enquanto os nossos raptados estão detidos na Faixa em condições precárias, mas também põe em perigo os soldados das FDI [Forças de Defesa de Israel]. Essa é outra razão clara pela qual devemos parar de transferir essa ajuda”, afirmou o ministro de Israel.
Pedido de cessar-fogo
O comunicado do Ministério das Relações Exteriores enfatiza que o Brasil é a favor do cessar-fogo, da entrega de ajuda humanitária em Gaza e da libertação de todos os reféns. Leia o comunicado na íntegra aqui. “O Brasil reitera a absoluta urgência de um cessar-fogo e do efetivo ingresso em Gaza de ajuda humanitária em quantidades adequadas, bem como a libertação de todos os reféns”, completou o comunicado do governo brasileiro.