Sexta-feira, 22 de
Novembro de 2024
Brasília

Morte

Bebê morre em hospital de Brasília (DF), após um mês de espera por cirurgia

Criança de 8 meses tinha Síndrome de Down e cardiopatia congênita. Instituto de Cardiologia, que atestou necessidade de procedimento, diz que não tinha leito disponível

Foto: Arquivo pessoal
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Ana Beatriz Oliveira, de 8 meses, morreu no Hospital Materno Infantil de Brasília após parada cardiorrespiratória

27 outubro, 2019

Brasília (DF) - Uma bebê de 8 meses morreu  sexta-feira (25/10) no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) após sofrer uma parada cardiorrespiratória, por volta das 11h. A família, que vive em Padre Bernardo (GO), esteve na unidade por volta das 15 horas para liberar o corpo.

Bebês  aguardam vaga para cirurgia no coração
Ana Beatriz Oliveira esteve internada na UTI pediátrica do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) por 40 dias e, há um mês, aguardava transferência para o Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), onde deveria fazer um procedimento de correção das válvulas do coração. Quinta-feira (24/10), a menina foi transferida para a UTI do Hmib.

Síndrome de Down
Ana Beatriz nasceu com Síndrome de Down e uma cardiopatia congênita grave chamada Defeito de Septo Atrioventricular Total – que afeta diretamente o bombeamento de sangue para o corpo. No dia 24 de setembro, a menina passou por exames no Instituto de Cardiologia e o laudo médico apontou "necessidade de cirurgia cardíaca". No entanto, a criança teve que voltar para o Hran por falta de vaga. O Instituto de Cardiologia informou que dispõe de 10 leitos pediátricos e que "todos estão ocupados com pacientes sem previsão de alta". A Secretaria de Saúde disse, por meio de nota, que "se solidariza com a família da bebê e se coloca à disposição". Segundo a pasta, quatro crianças aguardavam por leito pós-cirúrgico no ICDF na sexta-feira.


Um mês de espera
Durante um mês de espera, Ana Beatriz teve pneumonia e duas paradas cardíacas. Na quinta (24), ela teve uma insuficiência respiratória e precisou ser entubada, segundo relatório emitido pelo Hran. Na ocasião, porém, a bebê estava no pronto-socorro – "aguardando vaga em qualquer UTI pediátrica em caráter emergencial", diz o documento. Por volta das 23h, ela conseguiu uma vaga no Hmib.  A mãe não quis comentar o caso, mas a ativista Karoline Moreira, voluntária da associação DF Down – rede de apoio às pessoas com a síndrome e seus familiares – falou em "descaso do poder público". Ela passou por situação semelhante há cerca de 9 anos, quando seu  filho nasceu. "É descaso da Saúde com as pessoas com deficiência. Isso é desumano. Estão com os olhos vendados, cada um nas suas cadeiras. Não estão fazendo nada." "A gente não pede nada mais que o nosso direito de acesso à saúde." Karoline contou que, quando o filho nasceu, teve que levá-lo a São Paulo para fazer a cirurgia. "Eu cheguei a acumular 33 liminares da Justiça e nada", afirmou. "Quantos casos mais a gente vai ter que acompanhar? Quantos óbitos mais?"
A Defensoria Pública do DF informou que, atualmente, move quatro ações para acelerar o atendimento de crianças nesta situação. Desde o início do ano, o órgão atendeu 40 casos do tipo.

Casos semelhantes
Outra bebê com Síndrome de Down e cardiopatia congênita aguarda uma vaga no Instituto de Cardiologia do DF. A Bárbara tem 11 meses e, há pelo menos 6 meses, enfrenta internações sequenciais. A última foi no dia 7 de outubro, quando os pulmões e o coração ficaram encharcados, segundo a mãe, Paloma Ferreira. Nesta sexta (25), a bebê estava na UTI pediátrica do Hmib com quadro de saúde estável. De acordo com Paloma, a criança já foi avaliada pelo ICDF e tem condições de passar pela cirurgia necessária, mas precisa esperar a liberação de um leito. "Ela passou por avaliação, está perfeita pra fazer a cirurgia, mas corre o risco de pegar infecção no ambiente hospitalar", disse a mãe. "Tenho medo porque, em crianças com cardiopatias, qualquer coisa pode descompensar a saúde." "Não é porque ela está bem que eu estou tranquila. Estou angustiada, aflita."
Nesta quinta, Aylla Vitória, uma bebê de 3 meses que dividia a UTI pediátrica com a filha de Paloma conseguiu a vaga no Instituto de Cardiologia.