Brasília (DF) - A ala militar do governo de Jair Bolsonaro se mostrou perplexa com a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e pela forma como o ex-ministro desembarcou, fazendo graves acusações contra o chefe do Executivo. A retirada do apoio ao presidente já é discutida entre os aliados militares. Duas situações teriam sido a gota d'água para os fardados foram a exoneração de Maurício Valeixo da diretoria-geral da Polícia Federal; e a exposição contundente de Moro a respeito das interferências políticas de Bolsonaro na PF. A primeira, a saída de Valeixo, desagradou os militares por ter sido concretizada sem consulta. Na quinta-feira (23/4), foram os generais ministeriais - Braga Netto (Casa Civil), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) - que atuaram como “bombeiros” para apagar a crise entre Moro e Bolsonaro, tentando convencer o ministro a ficar no governo. Já a forma como Moro expôs Bolsonaro chocou o alto escalão militar aliado ao presidente. As acusações claras de interferência na PF foram classificadas como “injustificáveis”. Na avaliação os militares, o presidente isolou-se de vez com os fatos desta sexta. Soma-se a esses fatores a pressão pela condução de Bolsonaro diante da crise do novo coronavírus no Brasil. A avaliação da ala militar é que, hoje, o presidente só pode contar com a família e alguns poucos aliados no Congresso.
Saída de Moro
O ex-juiz federal, alçado ao holofotes do combate à corrupção por sua atuação frente a Operação Lava-Jato, deixa o governo depois de o presidente exonerar Mauricio Valeixo, diretor-geral da Polícia Federal.
“Para mim, esse último ato (de exonerar Valeixo) é uma sinalização que o presidente me quer fora do cargo (...). Eu não tinha como aceitar essa substituição em respeito a minha biografia. Seria um tiro na Lava Jato se houvesse substituição de delegados, superintendentes e etc. Preciso preservar meu compromisso que fiz com o presidente de que seríamos firmes no combate à corrupção, crime organizado e violência”.
O ex-ministro alertou que a troca seria uma interferência política na PF e que Bolsonaro concordou que seria mesmo. “Essa interferência pode levar a relações impróprias entre diretor e superintendentes com o presidente e isso eu não posso concordar”, destacou. “O grande problema não é quem entra (na diretoria-geral da PF), e sim porque entra”, completou. A troca de Valeixo seria, para Moro, uma violação da “carta branca” que ele teria recebido de Bolsonaro para que pudesse realizar nomeações nos escalões do Ministério da Justiça.
“Não é uma questão do nome, tem outros bons nomes para o cargo de diretor da PF, outros delegados competentes. O problema de realizar essa troca é que haveria uma violação na promessa de que me foi feita de que eu teria carta branca. Em segundo lugar, não haveria uma causa para essa substituição. E estaria claro que estaria havendo uma interferência política na Polícia Federal”.
Moro classificou como “ofensiva” a publicação no Diário Oficial da União da exoneração “a pedido” de Valeixo. Segundo o agora ex-ministro, Valeixo nunca haveria pedido a demissão.
Autonomia ameaçada
Moro disse, em seu pronunciamento no fim da manhã desta sexta-feira (24), que Bolsonaro sinalizou que gostaria de nomear um diretor da PF em que pudesse “ligar, pudesse colher informações e colher relatórios de inteligência”.
“Não é o papel da Polícia Federal prestar esse tipo de informações, as investigações têm que ser preservadas. Imagine se durante a Lava Jato, os ministros, a ex-presidente Dilma, o ex-presidente Luiz (Inácio Lula da Silva) ficassem ligando para diretores, superintendentes em Curitiba e pedindo informações”.
Segundo Moro, Bolsonaro passou a insistir na troca do comando da PF a partir do 2º semestre de 2019. O primeiro indício, segundo Moro, foi a intenção de Bolsonaro ao trocar o superintendente da PF no Rio de Janeiro. O ex-juiz fez questão de destacar que nem durante os governos petistas a autonomia da Polícia Federal diante aos outros poderes foi desrespeitada.
“Desde 2014, quando estava a frente da Lava Jato, sempre tive preocupação constante de uma haver uma interferência do Executivo nos trabalhos da investigação. Seja através de de trocas de diretor-geral ou troca de superintendentes. Mesmo assim, foi garantida a autonomia da PF. É certo que o governo dessa época tinha inúmeros defeitos, crimes gigantes, mas foi fundamenta a autonomia da PF para realizar esse trabalho. Seja de bom grado ou por pressão da sociedade, a autonomia foi mantida”.
Fonte: Yahoo Notícias / Poptvnews