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Crime

‘Torturaram meu filho’, desabafa mãe de Guilherme; PM é suspeito do assassinato

Adolescente negro é encontrado morto após ser sequestrado e família suspeita de PMs

Foto: Arquivo/Ponte
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Familiares da vítima relataram terem visto Guilherme com vida pela última vez no portão da casa de sua avó, na Vila Clara, na periferia da zona sul de São Paulo.

17 junho, 2020

p/Arthur Stabile e Caio Castor

São Paulo (SP) -  Um grupo de aproximadamente 30 adolescentes entrou correndo na rua Rolando Curti, na Vila Clara, zona sul da cidade de São Paulo, por volta das 20h da terça-feira (16/6). Eles despistavam policiais militares que os perseguiam depois do protesto em repúdio ao assassinato de Guilherme Silva Guedes, 15 anos, sequestrado metros a frente de onde os jovens viraram, na porta da casa de sua avó. Ao passarem pela residência, os amigos gritavam: “Obrigado, Guilherme! Vai com Deus, moleque”. Já são três dias de protesto na Vila Clara, zona sul da cidade de São Paulo, pedindo justiça para Guilherme, que depois de desaparecer no domingo, foi encontrado morto em Diadema, na Grande São Paulo. Um dos suspeitos já foi identificado e está preso na Corregedoria da PM: é o sargento Adriano Fernandes de Campos, lotado no Batalhão de Ações Especiais de São Bernardo do Campos. Os Baeps são conhecidos pelo “padrão Rota” de atuação e guardam recentes episódios de violência policial. O último deles foi o caso de David Nascimento dos Santos, 23 anos, que enquanto esperava um lanche na favela onde morava foi abordado e colocado atrás de uma viatura do Baep, e apareceu morto horas depois. Adriano integra regularmente o quadro da PM e, no mês passado, recebeu seu salário de R$ 6.312,06 normalmente. Junto com o pai, o PM aposentado Sebastião Campos, Adriano tem uma empresa chamada Campos Forte Portarias Ltda, que, embora tenha registro para executar atividades de zeladoria e limpeza, atua com segurança privada e era a responsável por cuidar de um galpão na região, que foi alvo de invasão no fim de semana. Um PM da ativa não pode ter empresa em seu nome. Mesmo proibido, PM investigado por morte de Guilherme tem empresa que faz segurança particular. Família de Guilherme exige justiça: ‘Torturaram meu filho. Deram um tiro na cabeça dele’, desabafa mãe. Adolescente negro é encontrado morto após ser sequestrado e família suspeita de PMs Na terça-feira, Guilherme foi enterrado Cemitério Jardim da Luz, em Embu das Artes, cidade na Grande SP, sob forte comoção e, ao mesmo tempo, apreensão de amigos e familiares. "O que fizeram com ele foi uma crueldade muito grande. Torturaram muito ele, até a morte. Deram tiro na mão, na cabeça dele. Eu quero justiça. Lutarei até o fim por justiça”, desabafou Joyce da Silva dos Santos, mãe do jovem. A mulher se emocionou em vários momentos ao falar do filho, descrito como um rapaz tranquilo, carinhoso e extremamente preocupado em ajudar em casa. Parentes contam que ele trabalhava tanto com o avô, o auxiliando a exercer a função de pedreiro, quanto a mãe e a avó, que vendem marmitas. “Que mundo é esse tão cruel que a gente vive? É, vai na paz, irmão, fica com Deus. Eu sei que um dia eu vou te encontrar”. Os trechos da música Espera eu Chegar, do MC Kevin o Chris, ecoavam no cemitério enquanto o corpo de Guilherme era levado para sepultamento. Vários fogos de artifício explodiram no céu como forma de homenageá-lo. Antonia Arcanjo da Silva, avó de Guilherme, destaca as imagens de câmeras de segurança da rua que mostram primeiro Guilherme e, na sequência, dois homens. Um deles aparece com algo, que parece ser uma arma, nas mãos. Na terça-feira, o segundo dia consecutivo de revolta aconteceu nas imediações da Vila Clara. A protesto continuou de forma similar a primeira manifestação em repúdio à morte de Guilherme, ocorrido na noite de segunda-feira (15/6), quando a população revoltada queimou ao menos cinco ônibus como forma de chamar atenção para o crime. Em resposta, a PM agrediu moradores e os abordou de forma truculenta. O ouvidor da Polícia de SP, Elizeu Soares Lopes, definiu como lamentável a atuação da Polícia Militar no primeiro dia de protestos em repúdio à morte de Guilherme. “Teve uma intervenção depois, da polícia, na qual vimos cenas lamentáveis, cenas chocantes, não tem justificativa para um serventuário da lei agir daquela forma, com brutalidade. A intervenção policial tem de estar circunscrita à lei. Não pode haver abuso e não se pode tolerar violência por parte de quem tem a missão institucional de proteger vidas”, declarou. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informa que a investigação está sob responsabilidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e da Corregedoria da PM, que esteve nesta quarta-feira na Vila Clara. Sobre os protestos, "a Polícia Militar informa que equipes do Corpo de Bombeiros foram acionadas para combater múltiplos focos de incêndio, durante um protesto na zona sul da capital, nesta terça-feira, e "ao menos seis ônibus foram depredados e um estabelecimento comercial furtado. Foram registradas também tentativas de roubos e furtos a motoristas e transeuntes". Com relação à Sabesp, citada pela avó de Guilherme no vídeo como dona do galpão, a empresa se posicionou, ainda na segunda-feira, com a seguinte nota: “O local não pertence à companhia. Trata-se de área particular, apartada, que serve de canteiro de serviços de empresa contratada por licitação. A Sabesp lamenta o ocorrido, pedirá esclarecimentos à empresa e está à disposição das autoridades policiais no que for necessário”. Nesta quarta-feira, enviou nota semelhante reiterando que não há canteiro de obras da Sabesp “e que o local não pertence à companhia nem está sob sua responsabilidade”.

Fontes: Yahoo Notícias / www.poptvnews.com.br