Pequim (CHINA) - O coronavírus surgido na China e já registrado em vários outros países provocou a morte de nove pessoas e infectou cerca de 400, revela nesta quarta-feira o último boletim das autoridades de saúde chinesas. A vice-ministra da Comissão Nacional de Saúde, Li Bin, alertou que o coronavírus pode sofrer mutação e se propagar mais rapidamente. A comissão anunciou medidas para conter a doença diante da viagem de milhões de pessoas, por todo o país, para o feriadão do Ano Novo Lunar, esta semana. Entre as medidas estão a desinfecção e a ventilação de aeroportos, estações de trem e shoppings. "Quando for necessário, os controles de temperatura também serão adotados em áreas-chaves e locais muito frequentados", informou a comissão. O coronavírus, da mesma família do vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, sigla em inglês), já foi identificado na Tailândia, Japão e Coreia do Sul, assim como em várias cidades chinesas. Na terça-feira (22/1) os Estados Unidos confirmaram o primeiro caso no país, um homem que chegou a Seattle no dia 15 de janeiro, procedente da China. O principal foco da doença é a cidade chinesa de Wuhan, onde as autoridades intensificaram os controles de febre no aeroporto, estações de trem e estradas. Em Wuhan, foi cancelado um importante evento do Ano Novo Lunar, que a cada ano atrai milhares de pessoas.
No Brasil
O primeiro possível caso no Brasil do novo tipo de coronavírus está sendo investigado em Belo Horizonte (MG), informou quarta-feira (22/1) a Secretaria da Saúde de Minas Gerais. "O caso foi notificado como suspeito", destaca o governo mineiro. Ainda não há confirmação de que a pessoa esteja, de fato, infectada — há chance de o diagnóstico ser descartado. A possível paciente é uma mulher de 35 anos que voltou de Xangai, na China, e desembarcou na capital mineira no sábado passado (18/1). O Ministério da Saúde, no entanto, descarta que o caso atendido seja de coronavírus, porque apenas há transmissão ativa na metrópole chinesa de Wuhan, onde vivem 11 milhões de habitante e onde a paciente brasileira não esteve. Em Xangai, de onde ela veio, não há contágio ativo, diz a pasta. A definição da OMS (Organização Mundial da Saúde) para vínculo epidemiológico é com o indivíduo ter viajado para a província de Wuhan. Locais com casos importados não preenchem a definição (de caso suspeito) de organismos internacionais. A única região de transmissão no mundo, até o presente momento, é Wuhan — afirma a médica infectologista Tânia Chaves, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBIn). O governo acrescenta que notificou portos, aeroportos, fronteiras, Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde de todo o país, assim como a vigilância animal do Ministério da Agricultura, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A OMS teve uma reunião de emergência nesta quarta-feira para decidir se classificará os casos de coronavírus como emergência mundial ou não. O anúncio será dado na quinta-feira (23/1). O governo brasileiro aguarda definição para planejar os próximos passos. O primeiro caso em observação no Brasil ocorre no mesmo dia em que o número de mortos subiu de nove para 17 na China. Dentre os países com pacientes diagnosticados com coronavírus até agora, estão China, Macau, Taiwan, Japão, Coreia do Sul e Estados Unidos. Há ainda um caso suspeito no México e na Austrália.
O caso no Brasil
A brasileira com suspeita de contaminação relatou que não esteve em Wuhan, região de foco de origem dos casos do novo coronavírus, e que não entrou em contato com ninguém com sintomas da doença. Os exames capazes de confirmar ou descartar a hipótese diagnóstica estão em andamento. A mulher deu entrada em uma unidade básica de saúde de Belo Horizonte terça-feira (21/1) com sintomas compatíveis ao vírus que causa preocupação na comunidade médica internacional. O receio é de que o novo tipo de coronavírus tenha alta taxa de transmissão e cause uma pandemia global — ainda não se sabe o grau de transmissibilidade. A paciente está internada no Hospital Eduardo de Menezes para acompanhamento e não tem "qualquer sinal" de estado grave, informou o governo mineiro. Seu quadro é estável. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, o vírus é próximo aos subtipos que causaram epidemias como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003, e a Síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers, em inglês), que causou mais de 800 mortes na região em 2012. Neste momento, a atenção é, sim, necessária, porque não se conhece o potencial de transmissibilidade. Quando se conhecer, saberemos melhor os riscos de transmissão — diz Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor de Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Esclareça suas dúvidas sobre o coronavírus.
O que é?
O coronavírus é uma família de vírus que causa síndromes respiratórias, como resfriado e pneumonia. Versões mais graves do coronavírus causam doenças piores, como a temida Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars, sigla em inglês), responsável pela morte de mais de 600 pessoas na China e em Hong Kong entre 2002 e 2003. A versão de vírus que circula agora é uma espécie nova, desconhecida da comunidade médica, e o medo é de uma pandemia global.
Quais os sintomas?
Dentre os possíveis sintomas estão febre, dor, dificuldade para respirar, tosse, diarreia e pneumonia.
O vírus é transmitido facilmente?
Segundo o Centro para Vigilância e Prevenção de Doenças (CDC), equivalente dos Estados Unidos à Anvisa, não está claro se o novo coronavírus é transmitido facilmente ou não. Outra pergunta em aberto é: para transmitir, é preciso estar doente ou apenas ter o vírus no corpo? A resposta a isso é o que definirá a gravidade do vírus.
Quantas pessoas morreram?
O número de mortos subiu para 17 e ao menos 444 pessoas foram infectadas. A primeira morte foi em 11 de janeiro.
Onde surgiu?
Na cidade de Wuhan, na província de Hubei, na China. A metrópole de 11 milhões de habitantes está isolada. Trens e voos foram interrompidos e detectores de febre foram instalados nas estações de embarque e no aeroporto. Nas estradas, a temperatura corporal é medida pelos postos de controle e, para sair da cidade, o transporte não pode ser feito de carro. Para evitar qualquer concentração de pessoas, as autoridades anularam as comemorações do Ano-Novo Lunar chinês na cidade. As autoridades também proibiram qualquer espetáculo e fecharam um museu.
Como surgiu?
O CDC identifica um grande mercado atacadista de peixes e frutos do mar na cidade de Wuhan como a origem das infecções.
Como ele é transmitido?
De animal para pessoa e de pessoa para pessoa. Segundo o governo chinês, o vírus pode se modificar e ser transmitido mais facilmente. O medo é de que a doença ganhe força no país asiático em meio ao feriadão do Ano-Novo Lunar, quando milhões de pessoas viajam pelo país. Segundo o CDC, pessoas mais velhas parecem ter maior risco.
Como é o tratamento?
Não há tratamento contra o coronavírus em si, apenas contra os sintomas. Pacientes tomam remédio para baixar a febre e podem receber máscara de oxigênio para respirar melhor, por exemplo.
Preciso me preocupar com a chegada do vírus ao Rio Grande do Sul?
Há um caso suspeito em Belo Horizonte. Caso confirmado, há risco de o novo coronavírus ter infectado outras pessoas.
Quais os cuidados?
Lavar as mãos (sobretudo quem passar por aeroportos), evitar contato dos dedos com mucosas do nariz, olhos e boca. É recomendável usar álcool em gel.
A vacina contra a gripe protege?
Não. Segundo Alexandre Zavascki, chefe da Infectologia do Hospital Moinhos de Vento e professor da UFRGS, o vírus da gripe não é o coronavírus, e sim o influenza. Portanto, a vacina regular tomada antes do inverno não protege.
Onde foi a primeira infecção fora da China?
Na Tailândia, de uma mulher com pneumonia leve que voltou de uma viagem a Wuhan. Logo surgiram informações sobre casos em Japão, Coreia do Sul e Taiwan. Na última terça-feira, foram anunciados um caso na Austrália e outro nos Estados Unidos. Nesta quarta-feira, Brasil e México registraram casos suspeitos.
O que outros países estão fazendo?
Reino Unido, Austrália, Rússia, Cingapura e Turquia adotaram medidas em fronteiras e aeroportos para evitar a entrada do coronavírus. Dentre as ações, estão a criação de zonas especiais exclusivas para passageiros vindos da China e o uso de câmaras térmicas para identificar alta temperatura corporal (a pneumonia por coronavírus gera febre alta). O aeroporto de Heathrow, em Londres e o maior da Europa, tem uma zona especial agora para passageiros vindo da China. Em Cingapura, todos os passageiros vindo da China serão separados. Os Estados Unidos planejam colocar sensores de calor em aeroportos.
Por que o nome coronavírus?
Visto de um microscópio, o coronavírus parece uma coroa ou auréola. Em inglês, coroa é "crown".
Fonte: AFP / O DIA /Poptvnews