Rio de Janeiro (RJ) - De dois em dois anos, pouco antes do Rock in Rio, Roberto Medina tem o costume de desabafar. O empresário e criador do festival, que começa a edição de 2019 nesta sexta-feira, tem sempre muito a dizer sobre três de seus temas favoritos: entretenimento, Rio e turismo. "Eu fico indignado com a gente só estar batendo no Rio. Estamos sendo incompetentes em vender a marca do Rio de Janeiro. Vendendo o Rio você está vendendo o Brasil, gostem ou não. O estado está deprimido, está com uma sensação de vira-lata", diz Medina.Em entrevista por telefone, ele lamenta que exista uma insistência, segundo ele, em dizer que não se pode "fazer festa, porque falta dinheiro no hospital": "Nunca vai ter dinheiro, nunca vai ter esparadrapo no hospital se a gente não fizer festa. É o investimento mais barato que existe."
Os números do Rock in Rio
Medina também tem o costume de citar números, sempre que pode, para embasar o que está falando. Neste ano, em sete dias de festival, 700 mil pessoas devem passar pela Cidade do Rock, que tem 385 mil m². São 670 artistas escalados, que tocarão por mais de 300 horas. Segundo a organização, o festival deve gerar um impacto de R$ 1,7 bilhão na economia do Rio. "Entretenimento é a segunda indústria do mundo e a gente continua discutindo se faz ou não festa. O Rio é petróleo e festa, mais nada."
"Não tem outra forma de levantar o Rio. É tão simples que a gente está olhando, assistindo e está deteriorando. O Carnaval está deteriorando, eventos não acontecem, caramba...", comenta Medina. Ele também lamenta que grandes eventos internacionais estejam passando por São Paulo, e até por outras capitais, mas não tenham o Rio sempre em sua rota: "Caraca, não é possível. Eu acho que o Rock in Rio tem que ser visto como um pequeno ponto de transformação de como essa cidade é viável. Isso aqui é um efeito, uma demonstração do que a gente pode fazer com essa cidade." Medina gosta de citar uma cidade americana como exemplo, para falar de uma suposta diferença de tratamento dada ao Rio. "O Rio de Janeiro tem um vício de se autoflagelar. Eu te cito a comparação com Nova York. Você chega em Nova York, que eu amo, você chega lá e muda a sua lente: que cidade incrível." "Tem caras na rua dormindo, a cidade está pichada. Tem cheiro de esgoto nas ruas em que você está almoçando do lado. Isso é Nova York. E é lindo. Construíram uma imagem, uma marca." Para ele, o Rio é "o lugar mais bonito do mundo". "E a gente não tem marca, a gente destruiu a marca. Claro que tem muito problema que tem que ser consertado. Mas, caramba, a gente tem que dar um jeito de o Rio respirar." "O Rio é um negócio fantástico. Tem a melhor rede hoteleira da América Latina hoje. O espaço que a Cidade do Rock está ocupando não tem no mundo um espaço igual a esse. Nem em dimensões e nem em estrutura. Você pega o metrô em qualquer parte da cidade e o BRT e você cai dentro da Cidade do Rock. Isso não existe no mundo."
O novo Espaço Favela
Medina também diz que a ideia do novo palco do festival, o Espaço Favela, é mudar a visão "distorcida" que algumas pessoas têm sobre o povo brasileiro "e particularmente o carioca". Além de shows, a área terá bares e restaurantes, comandados por empreendedores que mantêm pequenos negócios em favelas. "É um olhar de uma perspectiva diferente do que, infelizmente, a gente olha de uma perspectiva ruim", explica Medina.