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Novembro de 2024
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Absurdo

Quase 300 candidatos milionários receberam auxílio emergencial, diz jornal

Candidato a vereador em Vila Propício (GO) pelo PDT, Geso Evangelista Nerys, com patrimônio de R$ 2,9 milhões

Foto: Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
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João Ricardo Baracho Navas, candidato a vereador em Itapetininga (SP) pelo PP, declarou R$ 6,4 milhões diz que seu patrimônio gera despesas

27 setembro, 2020

Nas eleições municipais de 2020, ao menos 298 candidatos a vereador e prefeito que declararam à Justiça Eleitoral mais de R$ 1 milhão em bens receberam auxílio emergencial do governo, segundo levantamento do jornal O Globo. O benefício, criado para ajudar pessoas prejudicadas pela pandemia de coronavírus, é distribuído a trabalhadores autônomos ou informais, a quem estiver desempregado, pertencer a uma família com renda familiar mensal de até três salários mínimos (ou meio salário mínimo por pessoa) e não tiver recebido, em 2018, rendimentos tributáveis acima de R$ 28,5 mil. Ter patrimônio alto não é necessariamente um impeditivo para receber o benefício, mas é um indício de irregularidade. João Ricardo Baracho Navas, candidato a vereador em Itapetininga (SP) pelo PP, declarou R$ 6,4 milhões. Ele é dono de um shopping e de um escritório de advocacia, além de um barco e alguns carros. Anunciou investimento em um novo prédio comercial e, neste mês, pediu indicação de faxineira para trabalhar duas vezes por semana. “Não tenho renda nenhuma. Meus imóveis, que são de locação, não estão funcionando, e meu escritório está parado. Tenho quatro filhos para criar. Não é fácil. Nessas épocas de crise, o patrimônio gera até despesas, porque tem que mandar funcionário embora. Demitimos todo mundo” afirmou o candidato à reportagem. Marcelo Barros, candidato a vereador pelo PSC em Varginha (MG), tem um patrimônio declarado de R$ 3 milhões, sendo um terço do valor referente ao terreno onde fica o motel de seu irmão que, segundo ele, está sem receber visitantes. “Eu fui gerente da Peugeot, mas hoje eu tenho 70 anos e ninguém me dá um emprego. São coisas que vão acontecendo na vida da gente. Eu não ganho nada, infelizmente”, explicou. Entre os candidatos milionários, há 15 pessoas com patrimônio acima de R$ 5 milhões; 254 são candidatos a vereador, 25 a vice-prefeito e 19, a prefeito. O candidato a prefeito Beto Francisco Machado, de Pirajuba (MG), declarou patrimônio de R$ 7,8 milhões, porém alega que seu nome foi usado indevidamente para receber o auxílio emergencial. Ele devolveu o dinheiro à União.

Candidato a vereador em Vila Propício (GO) pelo PDT, Geso Evangelista Nerys, com patrimônio de R$ 2,9 milhões, afirmou estar praticamente sem renda, embora seja dono de uma fazenda com plantação de milho e 55 cabeças de gado, ter dois tratores e caminhonete: “Sou dono, mas sou dono fraco. Não estou dando conta nem de tocar a terra. Pode ter patrimônio, mas sem investimento, não dá conta, o mato toma conta (do terreno). Tive muito prejuízo no milho neste ano”. Para o advogado especializado em direito penal Pedro Luís de Almeida Camargo, a declaração falsa para obter o auxílio pode configurar crime: “Se for constatado que a pessoa inseriu informações falsas na declaração para receber o auxílio, ela pode ser investigada e processada pelo crime de estelionato, que prevê pena de um a cinco anos, aumentada em um terço pelo fato de a fraude ter sido cometida em detrimento da União”, explicou. O Ministério da Cidadania afirmou que “tem atuado em conjunto com Polícia Federal e Ministério Público Federal para garantir a persecução penal de crimes praticados contra o auxílio emergencial”. A pasta disse ainda que, além “das sanções civis e penais cabíveis”, quem recebeu o benefício indevidamente terá de devolver o valor. O ministério diz já ter recebido de volta R$ 166,19 milhões pagos a quem não teria direito e que o índice de desconformidade no auxílio é de apenas 0,44%, segundo uma análise da Controladoria-Geral da União.

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