Impulsionada pela escalada do preço do petróleo após o início da Guerra da Ucrânia, a Petrobras fechou o primeiro trimestre de 2022 com lucro de R$ 44,5 bilhões. O resultado é o terceiro melhor já registrado por uma companhia aberta no Brasil. Os elevados lucros da estatal são alvo de críticas na oposição e no próprio governo, diante da alta dos preços dos combustíveis no país. Após a divulgação, o presidente classificou o lucro da estatal como "estupro" e pediu à empresa para não promover novos reajustes. A Petrobras, porém, também é alvo de postos e importadores, que reclamam da falta de reajustes e a consequente defasagem em relação aos preços internacionais. Esse cenário estaria provocando um "racionamento seletivo", ao prejudicar empresas de menor porte, incapacitadas de importar. Ao divulgar o resultado na quinta-feira (5/5), a estatal anunciou a distribuição de R$ 48,5 bilhões em dividendos a seus acionistas. Segundo a Petrobras, o desempenho no primeiro trimestre de 2022 foi beneficiado pela valorização do petróleo, maiores exportações e melhores margens na venda de diesel, compensados negativamente pelo menor volume de vendas de derivados. O resultado é 3.718% superior aos R$ 1,1 bilhão registrados no mesmo período de 2021, ainda sob forte efeito da queda nos preços e na demanda provocada pela pandemia. Vem logo depois do maior lucro anual da história da Petrobras, de R$ 106,6 bilhões, que levou a empresa a distribuir R$ 101,4 bilhões em dividendos. À frente do lucro trimestral divulgado nesta quinta estão apenas outros dois resultados da própria estatal, registrados no quarto trimestre de 2020 e no segundo de 2021, segundo levantamento feito por Einar Rivero com dados da TC/Economática. No relatório entregue ao mercado, o novo presidente da estatal, José Mauro Coelho, disse que o desempenho deve-se "ao fato de termos agora uma Petrobras saneada, que reduziu encargos com pagamento de dívidas, investe com responsabilidade e opera com eficiência". A distribuição dos dividendos, diz a empresa, está alinhada à sua política de remuneração aos acionistas, que prevê a distribuição de 60% da diferença entre fluxo de caixa e investimentos caso o endividamento bruto fique menor do que US$ 65 bilhões no trimestre, ficou em US$ 58,5 bilhões. "A aprovação do dividendo proposto é compatível com a sustentabilidade financeira da companhia e está alinhada ao compromisso de geração de valor para a sociedade e para os acionistas, assim como às melhores práticas da indústria mundial de petróleo e gás natural", afirmou a Petrobras, em nota. Com os mega-aumentos nos preços dos combustíveis anunciados no dia 11 de março, o preço médio dos derivados vendidos pela estatal ficou em R$ 544,25 por barril, alta de 12% em relação ao último trimestre de 2022. É o maior valor já registrado na história da empresa. Os reajustes levaram os preços de bomba dos combustíveis a níveis recordes e à demissão do general Joaquim Silva e Luna, o segundo presidente da estatal no governo Bolsonaro. Coelho, seu substituto, assumiu defendendo a política de preços da companhia. Logo após o anúncio dos dividendos, a estatal divulgou uma nota dizendo que "a sociedade brasileira é a maior beneficiária dos resultados da Petrobras", em um sinal de que o novo comando já põe em prática uma nova estratégia de comunicação, uma das missões assumidas por Coelho em sua posse. "Os recursos gerados pela Petrobras são revertidos em investimentos realizados com responsabilidade e que geram maior desenvolvimento econômico e geração de empregos e renda para os brasileiros", afirma Coelho, no texto. No relatório de apresentação do balanço, o tema é também reforçado por Coelho e pelo diretor Financeiro da companhia, Rodrigo Araújo. "Apenas no primeiro trimestre, recolhemos o total de R$ 69,9 bilhões em tributos e participações governamentais", disse Araújo. Com 28,67% das ações da estatal, a União terá direito a cerca de R$ 14 bilhões do total de dividendos anunciados na quinta-feira (5/5). O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem outros 8% e ficará com R$ 3,9 bilhões. A Petrobras fechou o trimestre com uma receita de R$ 141,6 bilhões, alta de 64,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, O Ebitda, indicador que mede a geração de caixa, subiu 58,8%, para R$ 77,7 bilhões. Com a cotação média do petróleo Brent em US$ 101 por barril, a área de exploração e produção da companhia teve lucro de R$ 41,3 bilhões, 13,7% superior ao registrado no último trimestre de 2021. Já a área de refino lucrou R$ 10,3 bilhões, alta de 5,7% no período.
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