SÃO PAULO (SP) - Em sua primeira entrevista após sair da prisão, o ex-presidente Lula (PT) pediu nesta quarta-feira (20/11) que o Congresso tenha juízo ao analisar proposta que pode alterar a Constituição para permitir o cumprimento de pena após condenação em segunda instância. A mudança significaria a volta do petista à cadeia. "Espero que o Congresso Nacional tenha juízo. Constituição não é um manuscrito que pode jogar fora toda hora", afirmou o ex-presidente. Para Lula, a elite brasileira conservadora diz que a Constituição é um atraso pois não gostam de mecanismos de proteção e garantias sociais. A entrevista foi concedida ao canal Nocaute, do jornalista e escritor Fernando Morais. Ao abrir a conversa, Morais afirmou que seu veículo ajudou na briga para que Lula fosse solto. Lula afirmou que o que mais deseja é a anulação do processo do tríplex em Guarujá (SP), e voltou a fazer críticas ao ex-juiz Sergio Moro, responsável pelas ações da Lava Jato e hoje ministro da Justiça, e Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba. "Quem montou quadrilha nesse país foi Moro e Dallagnol", disse o petista. O ex-presidente chamou Dallagnol de "moleque irresponsável e desaforado". A defesa de Lula busca a anulação do processo por considerar que o julgamento de Moro foi parcial. Conversas dos procuradores da Lava Jato reveladas pelo The Intercept Brasil e publicadas também pela Folha de S.Paulo mostram que Moro orientou os acusadores e mantinha próxima relação com eles. Lula pediu que a "Suprema Corte tenha sabedoria" ao decidir sobre a anulação. "Se eu tiver culpa, provem e me punam. Agora se provar que Moro fez sacanagem, má-fé, foi mal caráter, que ele seja punido, pelo bem da instituição", disse. "Para que o País volte a normalidade, meu processo tem que ser anulado e os responsáveis presos", completou. Lula afirmou ainda que é um cara esperançoso, que acredita nas instituições e que pretende andar pelo país para "levantar o moral da tropa", ressaltando que o país nunca teve um governo tão ruim como o de Jair Bolsonaro (PSL). "Não me peçam paciência com Bolsonaro, Moro e Dallagnol", disse ao responder se saíra da prisão disposto a brigar. "Eu sou de bem, mas também sou de brigar, estou defendendo a minha honra", completou. Ao mesmo tempo, Lula disse não guardar mágoas políticas de figuras como Marta Suplicy (sem partido) e Ciro Gomes (PDT). Lula repetiu que o "PT nasceu para polarizar", ao comentar as análises de que solto ele iria aumentar a polarização com Bolsonaro. "Se você tiver um partido que não queira polarizar, não tenha partido. [...] Vamos polarizar em 2022. [...] O PT tem que polarizar mesmo, tem que disputar pra valer", afirmou. Questionado sobre as eleições de 2020, o petista afirmou que o PT deve ter candidato próprio -embora não seja contra alianças com partidos de esquerda. Um partido do tamanho do PT tem que ter candidato para defender as teses do partido. [...] Tem que se defender na TV dos ataques de que foi vítima", disse. Para Lula, a lógica dos dois turnos é para que os partidos que tenham candidatos os lancem no primeiro turno, e que depois a esquerda se apoie no segundo turno. "As pessoas tem que ter candidaturas competitivas para ser cabeça de chapa, o dado concreto é que não têm. [...] PT pode fazer aliança, mas as pessoas têm que apresentar quadros melhores do que os do PT", afirmou. Lula voltou a descartar uma autocrítica do PT, dizendo que o partido teve mais acertos que erros. "PT é o partido de esquerda mais importante da América Latina, não vamos abrir mão da nossa grandeza", declarou.