São Paulo (SP) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acusou, sábado (12/6), o presidente Jair Bolsonaro de estar corrompendo ideologicamente militares com cargos em seu governo. No Rio de Janeiro, o petista também comparou a máscara a um cabresto, mas, defendendo as medidas de prevenção à Covid-19, disse que a usa para se diferenciar de Bolsonaro, a quem chamou de genocida. Em reunião com líderes comunitários, o ex-presidente relatou dificuldades de falar com a máscara. A uma plateia de cerca de 40 pessoas, todos de máscara, Lula disse que poderia parecer "bravo". Mas justificou-se: "Não consigo falar com a máscara. Na verdade, a máscara é um cabresto. Estou com um cabresto aqui. Mas eu uso ela e falo mesmo incomodado para mostrar a diferença nossa do genocida que governa este país", discursou, referindo-se ao arreio utilizado para controle da marcha de animais. O petista disse ainda que, com o uso da máscara, pretendia reforçar a necessidade das medidas de combate à pandemia no Brasil. Embora estivesse em uma sala ventilada, de portas e grandes janelas abertas e com distanciamento entre os presentes, Lula admitiu que ali havia gente demais. "Temos que evitar concentrações. Acho que tem até gente demais aqui. Mas não tem como também...", reconheceu. Afirmando que o governo adota práticas antidemocráticas, Lula disse que o presidente desautorizou as Forças Armadas ao interceder para que o ex-ministro Eduardo Pazuello não fosse punido após participar de manifestação ao lado de Bolsonaro, no Rio. O regulamento disciplinar do Exército proíbe a manifestação de natureza político-partidária de militares da ativa. General da ativa, Pazuello esteve no ato no último dia 23 e, sem máscara, subiu no carro de som ao lado do presidente. Segundo Lula, "levar o Pazuello para dentro o armário dele, para escondê-lo de uma punição das Forças Armadas, é uma afronta grave que o presidente da República não poderia fazer". Lula lamentou o que chamou de deformação do uso das Forças Armadas. "Bolsonaro está corrompendo ideologicamente os militares, enchendo de militares dentro do Palácio, coisa que não precisa", afirmou o petista. Na opinião do ex-presidente, Bolsonaro quer criar um Estado militarizado. Por isso, diz o petista, Bolsonaro ampliou o acesso às armas. "O Bolsonaro nunca se preparou para ser presidente deste país. Ele não tinha dimensão do tamanho do cargo. Ele quer criar um aparato próprio. Ele não quer um partido político onde possa debater democraticamente. Ele fomenta diariamente os milicianos dele. É triste para o Brasil, é perigoso para o país", afirmou Lula, em entrevista concedida após o encontro com parlamentares e líderes comunitários. No fim da tarde, o ex-presidente se reuniu com artistas no mesmo hotel da zona sul carioca. Desde quinta-feira (10) no Rio, Lula cumpriu uma agenda que incluiu encontros com o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) e o prefeito de Niterói, Axel Grael (PDT), além de um almoço com o prefeito Eduardo Paes (PSD) e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM). Apesar de afirmar que ainda não se decidiu sobre uma candidatura à Presidência em 2022, Lula se disse disposto para a luta. "Se decidir, quando for tempo certo, pela candidatura, quero dizer para vocês: vou ser candidato, derrubar o Bolsonaro, ganhar as eleições dele. Ele pode até correr para não passar a faixa. Quem vai colocar a faixa é o povo brasileiro". Na passagem pelo Rio, Lula se reuniu com ex-pedetistas, antigos correligionários do ex-governador Leonel Brizola. Em conversas, lamentou o distanciamento do ex-ministro Ciro Gomes, potencial candidato do PDT à Presidência. Perguntado em entrevista se esperava uma reaproximação, Lula disse que, apesar das críticas desferidas pelo ex-ministro, tem respeito e admiração por Ciro. "Jamais trataremos o PDT como inimigo", afirmou.
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