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Abril de 2024
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General da reserva diz: Exército não fará burrice por Bolsonaro

Paulo Chagas, general da reserva disse que Exército não fará burrice de mudar a postura pelo presidente Jair Bolsonaro

Foto: Divulgação
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Chagas, que foi apoiado por Bolsonaro em 2018 quando se candidatou ao governo do Distrito Federal, ainda disse que o Exército "aprende muito com seus erros" e repetiu que o comando não pode ser "burro"

31 março, 2021

O general da reserva Paulo Chagas afirmou, na terça-feira (30/3), que o Exército não fará a "burrice" de mudar a postura para apoiar o presidente também militar Jair Bolsonaro (sem partido), após a renúncia coletiva dos comandantes dos três poderes das Forças Armadas. "Te asseguro que não haverá mudanças. Se Bolsonaro acha que vai ter outra postura das Forças ao trocar os comandantes, está enganado", afirmou.  Chagas, que foi apoiado por Bolsonaro em 2018 quando se candidatou ao governo do Distrito Federal, ainda disse que o Exército "aprende muito com seus erros" e repetiu que o comando não pode ser "burro". "O Exército aprende muito com seus erros. Se meter num negócio desses é uma burrice. O Exército não pode ser burro. O Alto-Comando, que estuda e decide as atitudes da Força, não vai embarcar nessa canoa".

 

'Bolsonaro continua sendo do baixo clero'

Chagas parece ter se desiludido de vez com o capitão. Ele foi firme na declaração e ressaltou que o presidente continua agindo como um deputado inexpressivo sem noção das consequências de seus atos. "O presidente continua sendo deputado do baixo clero. Fica jogando coisas no ventilador sem se preocupar com o resultado. Bolsonaro consolidou a má vontade daqueles que perderam as ilusões em relação a ele, entre os quais eu". Questionado se a crise militar será debelada em breve, Chagas respondeu. "Se o presidente calar a boca e não tocar mais nesse assunto, o assunto está encerrado. Depende só dele".

Queda dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica

O Ministério da Defesa anunciou, na terça-feira (30/3), a saída dos comandantes das três Forças Armadas: Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica). "O Ministério da Defesa (MD) informa que os Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica serão substituídos", diz trecho do comunicado oficial da pasta. É primeira vez desde 1985 que os comandantes das três Forças Armadas deixam o cargo ao mesmo tempo sem ser em troca de governo. No documento, o ministério não informou o motivo da saída dos três e também não anunciou os substitutos. 

Ministro da Defesa divulga carta enaltecendo golpe militar de 1964

No entanto, o novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, divulgou também nesta terça-feira (30) texto "Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964" enaltecendo o papel de "pacificar o país" realizado pelas Forças Armadas naquele ano, quando os militares foram protagonistas do golpe de Estado que derrubou o governo constitucional do presidente João Goulart. A texto de estreia de Braga Netto, que é general da reserva, enaltecendo as conquistas do golpe de 1964 ocorre em meio a temores de que sua ida para a pasta, assim como a saída dos atuais comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, seja uma manobra do presidente Jair Bolsonaro para ampliar a politização e sua influência nas Forças Armadas. O pai de João Doria era deputado durante a ditadura militar e foi cassado em 1984, quando os militares tomaram o poder. João Agripino Doria foi exilado e viveu 10 anos fora do Brasil. O filho, agora governador, passaram um período com o político no exílio. "A Guerra Fria envolveu a América Latina, trazendo ao Brasil um cenário de inseguranças com grave instabilidade política, social e econômica. Havia ameaça real à paz e à democracia", diz Braga Netto na Ordem do Dia. "Os brasileiros perceberam a emergência e se movimentaram nas ruas, com amplo apoio da imprensa, de lideranças políticas, das igrejas, do segmento empresarial, de diversos setores da sociedade organizada e das Forças Armadas, interrompendo a escalada conflitiva, resultando no chamado movimento de 31 de março de 1964", continua o novo titular do Ministério da Defesa, se referindo ao que durante muito tempo os militares chamaram de revolução.

Cenário geopolítico atual é de 'novos desafios', diz nota

"As Forças Armadas acabaram assumindo a responsabilidade de pacificar o país, enfrentando os desgastes para reorganizá-lo e garantir as liberdades democráticas que hoje desfrutamos." A derrubada de João Goulart, que realmente contou com apoio de setores da sociedade, levou a uma ditadura de 21 anos, que teve presos políticos, torturados, mortos, desaparecidos, fechamento do Congresso e censura à imprensa, entre outras quebras dos direitos humanos. Mas, segundo a Ordem do Dia do ministro, eventos como os de 1964 "só podem ser compreendidos a partir do contexto da época", e o quadro hoje é outro. "O cenário geopolítico atual apresenta novos desafios, como questões ambientais, ameaças cibernéticas, segurança alimentar e pandemias. As Forças Armadas estão presentes, na linha de frente, protegendo a população." Mais para o final do texto, Braga Netto ressalta a missão constitucional das Forças Armada, na qual está "garantir os Poderes constitucionais". "A Marinha, o Exército e a Força Aérea acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a Pátria, garantir os Poderes constitucionais, e seguros de que a harmonia e o equilíbrio entre esses Poderes preservarão a paz e a estabilidade em nosso país", afirma. "O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março de 1964"