Sábado, 27 de
Abril de 2024
Brasil

Diplomacia

Fernando Collor poderá ser o novo ministro das Relações Exteriores do Brasil

Comentam nos bastidores políticos de Brasília que, Collor seria o indicado do  Senado Federal

Foto: Divulgação
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Senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL)

29 março, 2021

Brasília (DF) - O pedido de demissão do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, concretizado nesta segunda-feira (29/3), vinha sendo especulada e arquitetada em Brasília ao longo das últimas semanas. A decisão já foi informada à equipe do ministério e deve ser oficializada em breve, após almoço com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Além dele, também foi ventilado o nome do senador e ex-presidente Fernando Collor (PROS-AL), mas aliados de Bolsonaro opinam que, nesse caso, o mandatário perderia influência sobre a chancelaria. Mas, comentam nos bastidores políticos de Brasília que Collor seria o indicado do  Senado Federal.  O mesmo obstáculo é apontado para o nome do também ex-presidente Michel Temer (MDB), que entrou na bolsa de apostas em ocasiões anteriores. No Itamaraty, os nomes mais lembrados são os da embaixadora Maria Nazareth Farani (cônsul em Nova York) e do embaixador Nestor Forster (Estados Unidos), e do secretário de Assuntos Estratégicos, almirante Flavio Rocha.

Quem é Luis Fernando Serra  

Formado em Direito, Serra ingressou no Itamaraty em 1972, no curso preparatório da diplomacia no Instituto Rio Branco. Em 2018, chegou a ser cotado para chefiar o Ministério das Relações Exteriores do governo recém-eleito de Bolsonaro, mas o cargo acabou sendo assumido por Ernesto Araújo.  Presidente da República, Jair Bolsonaro durante audiência, ao lado de Onyx Lorenzoni, então ministro-Chefe da Casa Civil, e com o embaixador Luis Fernando Serra. (Foto: Marcos Corrêa/PR)
Serra se tornou próximo a Bolsonaro quando o recepcionou em Seul, na Coreia do Sul, em fevereiro de 2018, quando o atual presidente ainda era deputado federal e pré-candidato. Serra disse concordar com a visão de gestão do presidente e agradeceu por ter sido recebido por um dirigente brasileiro pela primeira vez em 47 anos de carreira.

Polêmicas

No comando da embaixada de Paris, Luis Fernando Serra tem forte atuação rebatendo críticas da imprensa francesa ao governo Bolsonaro. O presidente já protagonizou diversos atritos com o mandatário da França, Emmanuel Macron. Os dois trocaram acusações públicas em agosto de 2019, depois do francês criticar um aumento no desmatamento da Amazônia. Em janeiro, Bolsonaro voltou a criticar declarações de Macron sobre a Amazônia, dizendo que ele faz "politicalha" e fala "besteira" sobre o Brasil. Um comentário feito por Bolsonaro sobre a primeira-dama francesa também causou grande desconforto diplomático, ainda em 2019. Na ocasião, em seu Facebook, um seguidor de Bolsonaro postou uma montagem com fotos da esposa de Emmanuel Macron e da esposa do presidente brasileiro. Nela, ele comparava Brigitte Macron e Michelle Bolsonaro e dizia que o francês tinha “inveja” do brasileiro e que, por conta disso, ele estaria “perseguindo” Bolsonaro. Em resposta ao seguidor, o presidente brasileiro disse: “Não humilha, cara. (Risos)”. Essa “perseguição” estaria relacionada à convocação do G7 feita por Macron para tentar ajudar no combate às queimadas que se alastraram pela Amazônia desde a semana passada. A fala do presidente brasileiro foi repercutida pelos jornais franceses e, nesta segunda-feira (26), foi rebatida por Macron. Em entrevista coletiva, o presidente francês afirmou que o comentário de Bolsonaro foi “triste” e “extremamente desrespeitoso”. “Eu penso que as mulheres brasileiras têm vergonha de ler isso de seu presidente”, afirmou.

Queimadas eram piores com Lula

 Em entrevista a um programa na TV francesa France 24, Luís Fernando Serra afirmou que, no mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), houve incêndios muito mais graves na Amazônia, mas ninguém divulgou isso, porque Lula é queridinho da imprensa.  "Preciso dizer uma coisa muito importante: em 2005, aconteceu a mesma coisa, aliás, pior. Você pode ir aos arquivos para ver, mas o presidente era Lula, queridinho da imprensa, então ninguém saiu espalhando o que estava ocorrendo na floresta. Ninguém disse que era culpa do Lula", afirmou.  Segundo Luis Fernando, as pessoas tampouco responsabilizaram o ex-presidente americano, Barack Obama, pelos incêndios na Califórnia. Indagado pela jornalista se então isso seria só uma coisa da imprensa, Serra afirmou:  "Claro, (Bolsonaro) derrotou a esquerda com 58 milhões de eleitores que eram contra Lula e seu partido. Mas a esquerda não admite perder eleições no Brasil."  Serra também afirmou que a imprensa estrangeira está tentando acabar com a reputação do Brasil e do presidente Jair Bolsonaro no exterior porque o país é muito competitivo em agricultura.

Boicote

Em julho do ano passado, Luis Fernando Serra, cancelou sua participação em um evento com acadêmicos em Paris ao descobrir que a vereadora Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018, seria homenageada. Segundo reportagem do portal UOL, a informação consta de telegramas internos enviados pelo diplomata ao Itamaraty, em Brasília, e solicitados pela bancada do PSOL, interessada em saber orientações do Ministério das Relações Exteriores às embaixadas sobre o que deve ser dito em relação à morte de Marielle. "Convidado para assistir à cerimônia de encerramento do Congresso, fui informado de que o evento ocorrerá em local cedido pela prefeitura de Paris, com a presença da prefeita Anne Hidalgo (Partido Socialista)", escreveu Serra em 6 de agosto de 2019, sobre o Congresso da Associação de Brasilianistas na Europa. "Na ocasião, após a palestra final da conferência, deverá ser dada a palavra à prefeita para ‘prestar homenagem à brasileira Marielle Franco’. Na ocasião, a prefeita tornará pública a localização de jardim da capital francesa que receberá oficialmente o nome da vereadora brasileira", explicou. "Ante o exposto, tomei a iniciativa de cancelar minha participação no referido evento", concluiu o embaixador. Em 26 de setembro, Serra informou sobre a inauguração da praça. "A embaixada do Brasil não foi contatada ou convidada para a cerimônia de inauguração do Jardim Marielle Franco na capital da França", explicou.

'Fritura

A saída do chanceler brasileiro era uma demanda dos presidente do Senado, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Os dois foram apoiados pelo presidente Bolsonaro durante as eleições na Câmara. Os congressistas entendem que Araújo foi o principal responsável pelo atraso na vacinação contra a covid-19 no Brasil. Os problemas na imunização teriam sido fruto das más relações entre Brasil e China e também com os Estados Unidos. Em janeiro, insumos para a fabricação de vacinas demoraram a chegar no país graças às relações ruins com a China. Ernesto Araújo é entendido com um dos ministros mais fortes da chamada "ala ideológica" de Bolsonaro. Além dele, Abraham Waintraub, também integrante do grupo e ex-ministro da Educação, também teve sair do cargo por pressão. Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, também deixou o cargo após insistência de aliados do Centrão.

Agravamento da crise do Covid-19

A postura de Araújo já desagradava e a permanência era considerada insustentável. A situação ficou ainda pior durante o fim de semana, com uma briga com a senadora Katia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores na casa. Em mais um ataque aos chineses, Araújo postou nas redes sociais que a senadora teria ligações com o lobby chinês pelo 5G. Esse, segundo o chanceler, seria um dos motivos pelos quais os senadores queriam a saída dele. "Se um Chanceler age dessa forma marginal com a presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República de seu próprio país, com explícita compulsão belicosa, isso prova definitivamente que ele está à margem de qualquer possibilidade de liderar a diplomacia brasileira", afirmou Katia Abreu em nota.

Gesto supremacista

Filipe Martins, assessor de Jair Bolsonaro para assuntos internacionais, fez um gesto comum entre supremacistas brancos durante sessão no Senado. Martins acompanhava o chanceler Ernesto Araújo, que debatia com os parlamentares. No fundo, Filipe Martins e o gesto que gerou revolta por sua identificação com supremacistas brancos (Foto: Reprodução/TV Senado)
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, decidiu instaurar procedimento de investigação para apurar o fato.

Bronca dos judeus

O ministro das Relações Exteriores esteve na comitiva que visitou Israel para saber mais sobre um spray nasal, que ajudaria no tratamento da covid-19. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi repreendido e obrigado a usar máscara para posar ao lado do chanceler de Israel, Gabi Ashkenazi. Em vídeo que viralizou nas redes sociais, um integrante da equipe do governo israelense pede uma foto do representante brasileiro junto ao primeiro-ministro do país anfitrião. Entretanto, ao se aproximar de Ashkenazi, ouviu um aviso: “Nós precisamos que coloque a máscara”.