Segunda-feira, 25 de
Novembro de 2024
Brasil

Punição

Exército considera descabida ida de Pazuello a ato com Bolsonaro e pede punição

Generais que integram a cúpula da Força trocaram impressões por telefone sobre o que ocorreu no Rio de Janeiro e dizem, em conversas reservadas

Fotos: Divulgação
post
A participação de Pazuello (centro) no ato político de Bolsonaro fez aumentar a pressão para que ele vá para a reserva

24 maio, 2021

Brasília (DF)  - A decisão do general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, de subir num palanque político  domingo (23/5) foi considerada descabida por integrantes do Alto Comando do Exército, que enxergaram uma transgressão a normas básicas na caserna. Generais que integram a cúpula da Força trocaram impressões por telefone sobre o que ocorreu no Rio de Janeiro e dizem, em conversas reservadas, que o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, deve avaliar o caso e decidir que providência será tomada. Integrantes do Alto Comando esperam uma avaliação e punição em curto prazo, diante da mensagem negativa que Pazuello passou a patentes inferiores ao subir num palanque político. A participação de Pazuello no ato político de Bolsonaro fez aumentar a pressão para que ele vá para a reserva. Essa pressão já existia de forma consistente desde sua demissão do ministério, em razão do exercício de um cargo de natureza política. O ex-ministro subiu no carro de som onde estava o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que discursou após um passeio de moto com apoiadores. O passeio começou por volta das 10h no Parque Olímpico e seguiu até o aterro do Flamengo, na zona sul do Rio, um percurso de 40 quilômetros. Bolsonaro e Pazuello estavam sem máscara no carro de som. O presidente discursou e voltou a usar a expressão "meu Exército", que já havia incomodado integrantes da cúpula da Força. "Meu Exército jamais irá às ruas para manter vocês dentro de casa", afirmou Bolsonaro. Pazuello foi o ministro da Saúde mais longevo de Bolsonaro na condução da pandemia. Sua gestão é o principal foco da CPI da Covid no Senado. O militar, um general de três estrelas, seguiu na ativa tanto durante o exercício do cargo de ministro quanto após sua demissão em março -ele voltou ao Exército para uma função burocrática. A Folha ouviu generais que integram o Alto Comando do Exército sobre a disposição de Pazuello de participar de um ato político de Bolsonaro, inclusive subindo num palanque improvisado. O gesto foi mal recebido entre esses militares, que entendem que Pazuello precisa ir para a reserva e ser punido. Segundo os generais, não há condições para que ele permaneça na ativa. Esse entendimento já era manifestado durante o período do general no Ministério da Saúde e também após a sua demissão. Conforme integrantes do Alto Comando, Pazuello exerceu um cargo de alta voltagem política, com alinhamento automático aos desejos do presidente. Assim, não faria sentido a permanência na Força e um retorno aos quadros militares. A subida ao palanque no Rio tornou essa interpretação ainda mais cristalizada. O entendimento é que o ex-ministro descumpriu o regulamento disciplinar do Exército, que veda participação em atividades políticas coletivas. Ao subir num carro de som de um evento eminentemente político e não oficial, em defesa da reeleição do atual presidente, o general desrespeitou o regramento interno do Exército, na visão de integrantes da cúpula da Força. Eventuais abertura de processo e aplicação de punição caberão, porém, ao comandante do Exército. Cabe a Nogueira ouvir Pazuello e decidir o que fazer, segundo integrantes do Alto Comando. A apuração de uma transgressão disciplinar, como lembram esses generais, segue normais próprias estabelecidas em regulamento, que asseguram ampla defesa e garantia de prazos. O Exército foi diretamente envolvido na CPI da Covid, ao precisar ser acionado pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), para deliberação sobre o comparecimento ou não de Pazuello à comissão.  O general adiou sua ida ao colegiado em duas semanas, alegando ter tido contato com pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Em dois dias de depoimentos, na quarta (19/5) e na quinta (20/5), Pazuello mentiu sobre vacinação, fornecimento de oxigênio a Manaus na crise em janeiro e outros atos do Ministério da Saúde na pandemia. Em março, na maior crise militar em mais de quatro décadas no país, Bolsonaro demitiu o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica. O novo ministro, general da reserva Walter Braga Netto, vem demonstrando alinhamento aos anseios do presidente em relação aos militares. Ele subiu num palanque em Brasília em ato de apoio a Bolsonaro, no último dia 15, e chegou a discursar, na mesma linha dos discursos do presidente.

Hamilton Mourão:  Pazuello cometeu um erro, mas que está arrependido

O vice-presidente Hamilton Mourão disse nesta segunda-feira (24/5) que o general da ativa Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, deve ser punido pelo Exército por ter participado no domingo (23/5) de uma manifestação política ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no Rio de Janeiro.  Para atenuar a punição, que pode ir de uma advertência à prisão, Mourão, que é general da reserva, disse que Pazuello pode solicitar sua aposentadoria ao Exército.  "É provável que seja [punido], é uma questão interna do Exército. Ele também pode pedir transferência para a reserva e aí atenuar o problema", disse Mourão a jornalistas ao chegar pela manhã à Vice-Presidência da República, no anexo do Palácio do Planalto. mA pressão para que Pazuello vá para a reserva existe desde que ele assumiu o Ministério da Saúde, mas aumentou com o episódio deste final de semana. O ex-ministro subiu no carro de som onde estava o presidente, que discursou após um passeio de moto com apoiadores. O passeio começou por volta das 10h no Parque Olímpico e seguiu até o aterro do Flamengo, na zona sul do Rio, um percurso de 40 km.  Como mostrou a Folha, a decisão do general da ativa de subir em um palanque foi considerada descabida por integrantes do Alto Comando do Exército, que enxergaram uma transgressão a normas básicas na caserna.  Generais que integram a cúpula da Força trocaram impressões por telefone sobre o que ocorreu no Rio de Janeiro e dizem, em conversas reservadas, que o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, deve avaliar o caso e decidir que providência será tomada.  Integrantes do Alto Comando esperam uma avaliação e punição em curto prazo, diante da mensagem negativa que Pazuello passou a patentes inferiores ao subir num palanque político.  "O regulamento disciplinar do Exército ele no seu anexo I tem uma série de transgressões, entre elas, pode ser aí enquadrada essa presença do general Pazuello nessa manifestação, uma manifestação de cunho político", afirmou Mourão. 

O vice-presidente admitiu entender que Pazuello cometeu um erro, mas que o ex-ministro está arrependido. "Eu já sei que o Pazuello já entrou em contato com o comandante informando ali, colocando a cabeça dele no cutelo, entendendo que ele cometeu um erro", disse Mourão.  O vice-presidente, no entanto, não vê no episódio risco de que se abra uma brecha para a politização dos quartéis. " Acho que não [há risco de politização das Forças Armadas]. Acho que o episódio será conduzido à luz do regulamento, isso tem sido muito claro em todos os pronunciamentos dos comandantes militares e do próprio ministro da Defesa", disse Hamilton Mourão.  Pazuello já foi ouvido na CPI da Covid por causa de sua gestão à frente do Ministério da Saúde durante a pandemia. Após um depoimento repleto de contradições e mentiras, o general deverá ser reconvocado à comissão parlamentar de inquérito.