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CPI da Pandemia tomou quase metade da edição de terça-feira (4/5) do Jornal Nacional

As máscaras do governo caíram e viraram trilha para CPI

Foto: Divulgação
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JN noticias a marca das 412 mortes mortes pelo Covid-19, dentre as vítimas o ator e cineasta Paulo Gustavo

05 maio, 2021

Rio de Janeiro (RJ) - Com cerca de 20 minutos, a cobertura do primeiro dia de depoimento da CPI da Pandemia tomou quase metade da edição de terça-feira 4 do Jornal Nacional —um dia em que o país superou a marca dos 412 mil mortes pela covid-19. Entre as vítimas do dia estava a do ator e cineasta Paulo Gustavo, um talento e fenômeno de bilheteria de quem uma multidão acompanhava desde o dia 13 de março as notícias sobre sua internação. Ele tinha 42 anos. Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, falou à comissão por cerca de sete horas. No resumo de 20 minutos do principal noticiário brasileiro, ganhou destaque praticamente tudo o que ele já havia dito a respeito de sua passagem pelo governo de Jair Bolsonaro, inclusive em um livro de memórias. Ele guardou para o momento, porém, uma carta endereçada ao presidente que previa em março de 2020 exatamente o que aconteceria ao fim daquele ano. A missiva serve como prova de que o atropelo da pandemia não foi causada por acidente, mas pela irresponsabilidade de quem saiu às ruas ciente da imprudência. Durante a sessão, passou quase desapercebida a tentativa do líder do governo, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), de eximir o presidente de dolo ou má fé na condução da pandemia. As falhas, porém, eram admitidas pelo próprio parlamentar. Bezerra Coelho disse a certa altura que o Brasil está perto de testemunhar que as ações do governo eram as corretas. Parecia falar em maio de 2020, quando supor que o coronavírus mataria mais do que 100 mil brasileiros era apontado como catastrofismo e rendia demissão. Mandetta teve tempo de explicar como chegamos até onde chegamos. Ele lamentou que um projeto de testagem em massa no país chegou a ser articulado e nunca saiu do papel. E compartilhou a carta enviada ao presidente alertando para o agravamento da situação, com risco de colapso do sistema de atendimento e consequências sérias para a saúde da população, caso algumas recomendações, como o reconhecimento da transmissão comunitária do vírus e a urgência do isolamento social, não fossem adotadas. Não foram. A previsão era que, se nada fosse feito, o país chegaria ao fim do ano com 180 mil mortos. Projeção equivocada: em 31 de dezembro o número de vítimas chegou a 191 mil. Bolsonaro preferiu apostar na cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada e que, segundo o ex-ministro da Saúde, foi tema de um lobby escancarado de fabricantes que chegaram a sugerir mudanças na bula do emplastro para incluir a sua indicação para tratamento da covid-19. A iniciativa foi barrada pela Anvisa. Mandetta não cravou que a aposta de Bolsonaro era a imunização de rebanho, o que pode configurar o tal do dolo que a sua tropa de choque hoje quer afastar. Nem precisava. Há inúmeros registros do presidente dizendo que a melhor vacina era se contaminar. Para isso citava o próprio exemplo. O ex-titular da Saúde classificou como constrangedor o fato de ver o presidente tomar um rumo distinto daquele orientado pela pasta e as autoridades sanitárias. Segundo ele, Bolsonaro tinha um “conselho paralelo” que não fazia parte da estrutura da Saúde. Das revelações de Mandetta, não é menos grave o relato sobre a participação dos filhos do presidente em momentos-chave da crise. Vereador do Rio, Carlos Bolsonaro era presença constante nas reuniões onde se decidiam os rumos do país na pandemia. (O cidadão carioca paga R$ 10 mil mensais ao 02 para viajar, tomar notas e fazer as vezes de secretário do pai a 1.161,3 quilômetros de seu gabinete no Palácio Pedro Ernesto). Mandetta relatou também que o deputado Eduardo Bolsonaro (sem partido-SP), juntamente com o então chanceler Ernesto Araújo, o proibiram de conversar com representantes da China, de onde viriam os insumos necessários para o enfrentamento da doença. O mal-estar com Pequim foi um dos muitos problemas enfrentados pelo país no momento em que mais precisou da diplomacia para vacinar a população. Mandetta disse não ter dúvidas de que, diferentemente da narrativa palaciana, o Brasil poderia ter se saído melhor na crise e que a vacinação poderia ter começado em novembro do ano passado. A tragédia, segundo ele, é resultado de decisões tóxicas e equivocadas tomadas pelo antigo chefe, que perdeu uma grande oportunidade para promover o que chamou de educação em saúde, convocando para o front ídolos e atletas brasileiros em uma ampla campanha de conscientização e vacinação. Bolsonaro e sua turma preferiram encampar conversas do tipo “O Brasil não pode parar”. Ele até hoje se nega a tomar vacina. E seu ministro da Casa Civil precisa se imunizar escondido para não melindrar o chefe. Embora agora escancarada pelo depoimento do ex-ministro, a aposta do presidente já estava desenhada desde a reunião de 22 de abril, ocorrida pouco menos de um mês após o alerta do missivista. Que seria demitido em seguida. Naquela reunião falou-se de tudo, menos da pandemia. Deu no que deu.