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Julho de 2024
Brasil

Ameaça

Covid-19: dono de emissora sugere apedrejar jornalista que noticiar morte

A declaração foi dada num programa de rádio do próprio grupo de comunicação do empresário

Foto: Agência Senado
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Roberto Cavalcanti, que foi senador e é dono da empresa de comunicação paraibana

14 maio, 2020

p/ Carlos Rocha

João Pessoa ( Paraíba) - O dono de uma emissora de TV afiliada da Record sugeriu que jornalistas que noticiam mortes pela Covid-19 sejam "apedrejados". A declaração foi dada na edição na quinta-feira (14/5) de um programa de rádio do próprio grupo de comunicação que pertence ao empresário. Roberto Cavalcanti, que foi senador e é dono da empresa de comunicação paraibana, falava sobre a forma como os casos de Covid-19 tem sido abordados pela imprensa. Ele fez uma comparação dizendo que as mortes estariam sendo anunciadas como gols da seleção brasileira. "Tem determinadas emissoras que dão placar de quantos morreram no país. Parece que são gols da seleção do Brasil. 'Hoje, 10 mil gols, batemos o recorde.' Isso é uma vergonha. Isso é um país que deveria ter vergonha na cara. O jornalista, o radialista que fizesse um negócio desses deveria ser apedrejado na rua", disse. Logo em seguida, Roberto Cavalcanti pediu desculpas enquanto continuava a criticar o "assassinato de empresas" diante dos impactos econômicos da pandemia do novo coronavírus no país.

"Na verdade, eu descarrego esse meu silêncio de 62 dias para hoje — talvez me exaltei, peço desculpas. A minha forma de conduzir no dia a dia é da parcimônia, de agregar, de conquistar, mas tem momentos em que você assiste ao assassinato de pessoas, ao assassinato de empresas", afirmou."Isso não é possível. Não é possível que o Brasil não se revolte contra isso e deixe de lado o problema de ser de um lado ou de outro da política. Já falei demais, peço perdão mais uma vez", encerrou.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba, filiado à FENAJ, se manifestou por meio de nota. Veja:

Nota de repúdio

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba, filiado à FENAJ, vem a público repudiar as declarações do ex-senador e empresário do Sistema Correio, Roberto Cavalcanti, durante programa na Rádio 98 FM, que faz parte do conglomerado de comunicação. Em um momento no qual a imprensa brasileira vem sofrendo diversos ataques durante a cobertura da pandemia do coronavírus, agressões verbais e até mesmo físicas, o ex-senador afirma que jornalistas e radialistas que noticiam as mortes pela COVID-19 deveriam ser apedrejados na rua.  A declaração além de chocante causa repulsa na categoria, que foi considerada como serviço essencial durante a pandemia e continua trabalhando em seus postos normalmente. Nem mesmo as funções com possibilidade de trabalho remoto foram liberadas para tal. Outro agravante é a falta de equipamentos de proteção individual como máscaras em diversos desses locais do Sistema Correio, onde os trabalhadores estão expostos e, com isso, já foram identificadas pelo menos cinco infecções pelo vírus.  Agrega-se a essa situação que por si só já define o pensamento do Sr. Roberto Cavalcanti acerca dos trabalhadores que emprega o fato de ter extinguido, em plena pandemia, o jornal impresso Correio da Paraíba, deixando 38 jornalistas desempregados e sem perspectiva.  Porém, a atitude apesar de grave não surpreende, pois o Sistema Correio, do qual o Sr. Roberto Cavalcanti é empresário, há anos vem se negando a negociar reajustes para a categoria e, na primeira oportunidade de flexibilização de direitos, realizou uma demissão em massa mesmo em um momento no qual a proteção ao trabalhador deveria ser prioridade.  Repudiamos esse tipo de postura de qualquer pessoa, especialmente no que se refere a um empresário da área de comunicação. Tomaremos todas as medidas cabíveis para reparar a categoria em relação a essa declaração infeliz.


Redação

Depois do mal exemplo dado todos os dias pelo  presidente Jair Bolsonaro de ameaçar empresas de comunicação e profissionais de imprensa, esta prática  se transformou em rotina no Brasil. Qualquer uma pessoa (analfabetos funcionais ) se dá no direito de julgar e condenar o trabalho do jornalista brasileiro. É preciso então que,  entidades que representam os profissionais de imprensa, tomem medidas urgentes para coibir e punir exemplarmente, as agressões e os agressores.

Fontes: METRÓPOLES / 75 Paraíba / www.poptvnews.com.br