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Bolsonaro amplia publicidade para Globo

Em 2022, ano de reeleição, segundo um levantamento do portal UOL, o repasse aumentou 75% entre janeiro e julho e chegou a R$ 11,4 milhões.

Foto: Alessandro Dahan Getty Images
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Nos últimos seis meses a maior emissora (Rede Globo) se tornou o principal destino dos recursos

04 julho, 2022

O apoiador de toda e qualquer ação e omissão do presidente Jair Bolsonaro (PL) está à espera de novas orientações para saber como e o que dizer do aumento de verba em publicidade do governo destinada à TV Globo. Em 2022, ano de reeleição, segundo um levantamento do portal UOL, o repasse aumentou 75% entre janeiro e julho e chegou a R$ 11,4 milhões. A verba é dinheiro de pinga para quem acaba de enterrar as regras do controle fiscal, com a bênção da oposição, para ampliar o Auxílio Brasil e distribuir subsídio para caminhoneiros e taxistas enfrentarem a alta da gasolina. Além disso, a Globo possui a maior audiência do país e faz sentido que um governante queira divulgar ali, e não em uma emissora menor, mesmo que alinhada, os feitos de sua gestão. O problema é que o próprio Bolsonaro passou os últimos três anos e meio pintando a emissora como o diabo e sugerindo o seu estrangulamento financeiro para livrar o país de um grande mal. Em fevereiro de 2021, por exemplo, em um evento em Cascavel (PR), o presidente ergueu uma placa gigante com o símbolo da emissora riscado em X e os dizeres “Globo Lixo”, neologismo apropriado ao discurso bolsonarista a cada reportagem desconfortável ao ninho do capitão. Bolsonaro já declarou que gostaria que a “Globo fosse realmente uma imprensa que cada vez mais tivesse gente assistindo por acreditar nela, por ver que ela fala a verdade, mas infelizmente não é assim”. Ele também já disse ser perseguido pelo “sistema Globo” há pelo menos uma década e acusou a família Marinho, proprietária da empresa, de receber repasses suspeitos de um doleiro. E, mais de uma vez, ameaçou não renovar a concessão da emissora. A lista de ataques a profissionais da TV Globo também é imensa. A estratégia é clara: fugir do escrutínio jornalístico e atribuir qualquer crítica por atos e omissões a uma suposta conspiração. As razões para essa “conspiração” é uma suposta vingança por um suposto corte da “mamata” –como se, até sua chegada à Presidência, a Globo e outros veículos jornalísticos trocassem uma cobertura simpática a outros governos por uma fonte infindável de recursos em publicidade. Durante três anos e meio essa fantasia alimentou a justificativa do bolsonarista fiel que sustentava o boicote à emissora como um ato cívico. Ele se negava a dar audiência a uma emissora declarada inimiga de modo unilateral. A Globo mesmo nunca declarou o governante como inimigo. Nos primeiros anos de governo, Record e SBT, emissoras de menor audiência, mas simpáticas ao governo, superavam a Globo em volume de publicidade oficial. Nos últimos seis meses a maior emissora se tornou o principal destino dos recursos.

O que mudou?

Provavelmente Bolsonaro percebeu que, para mudar o jogo eleitoral, não basta pregar para convertidos nem assustá-los com os velhos fantasmas e inimigos de sempre. É preciso ganhar os eleitores, digamos, menos apaixonados. Mesmo que para isso precise divulgar os feitos de sua gestão na mesma emissora que outro dia mesmo chamou de “lixo”. Em algum momento da caminhada Bolsonaro se deu conta de que só o eleitor já convertido não será suficiente para dar a ele o direito de passar mais quatro anos viajando e passeando de moto por aí. Não tem convicção que fique de pé diante do risco de uma derrota eleitoral. O eleitor fiel, além do mais, já engoliu sapos maiores, como a aliança com o centrão, o fim da Lava Jato, a escolha de um PGR fora da lista tríplice, o número elevado, e além do prometido, de ministérios, a ampliação do antes criticado toma-lá-dá-cá, os rasgos da cartilha liberal e a presença de neoaliados no mesmo palanque como Valdemar Costa Neto, Fernando Collor, Arthur Lira e grande elenco.  Agora já pode chamar a vitrine na emissora rival de esforço patriótico de propaganda. O nome disso é outro. É medo da derrota.