Santo Amaro (SP) - Atestados médicos falsos são vendidos pelas de ruas de Santo Amaro, na Zona Sul da capital paulista. Vendedores abordam pedestres e oferecem exames médicos e atestados para justificar faltas. Documentos possuem número de registro profissional de médicos de diversos hospitais, entre eles, da Santa Casa e do Campo Limpo. Durante uma semana, a equipe do SP2 acompanhou a comercialização que ocorre no meio da rua. Vídeo mostra um dos produtores da reportagem sendo abordado por um jovem que ofereceu um atestado de três dias, por R$ 90,00, diante da recusa, ele ainda ofereceu desconto. Durante o período em que o produtor permaneceu na região, uma mulher com uma criança de colo chegou a comprar um atestado, sem saber que estava sendo filmada. Os vendedores oferecem o documento de vários hospitais, entre eles, do Campo Limpo e a Santa Casa. O atestado do Hospital Municipal do Campo Limpo está com o nome do médico Wellington Y. Ishizaka que trabalha em uma clínica particular em Santana, na Zona Norte de São Paulo. Em entrevista ao SP2 o médico Ishizaka disse que o nome e o número do CRM é dele, porém, o carimbo não é seu. “É completamente diferente. Só esse ano, acho que já tem umas três ou quatro vezes que já me chamaram em delegacia para saber se fui eu que tinha passado atestado”, disse ele. O Conselho Regional de Medicina informou que o dr. Wellington não comunicou a utilização indevida do registro dele. Disse ainda que o médico responde a uma sindicância instaurada este ano, mas não informou o motivo. O oftalmologista José Wilson Gambier Costa conta que tem sofrido com o uso de seu CRM em atestados falsos. Ele disse que perdeu os documentos na região da Avenida Paulista e na carteira estava o CRM. Meses depois ele recebeu uma ligação de uma empresa que queria checar se ele tinha dado um atestado para um funcionário. “Alguém em Limeira tinha na época um carimbo meu, com o meu nome, um carimbo falsificado, e podia está exercendo ilegalmente a medicina em meu nome”, disse o oftalmologista em entrevista ao SP2. De acordo com a Associação Paulista de Medicina, por mês, são emitidos cerca de dez mil atestados médicos em todo o estado. A associação estima que entre duzentos e trezentos deles sejam falsos, uma média de cinco atestados fraudados por dia. Para reduzir o número de fraudes a instituição está implantando um atestado médico digital, no qual o médico manda o atestado direto para a empresa. “Facilitaria as emissões, o envio para as empresas, com certificação ou validação, ou validade digital, com emissões diretas da instituição médica eventualmente para empresa, evitando a circulação do documento. Isso, pelos estudos técnicos que foram feitos, dificultam muito qualquer tipo de fraude”, disse o diretor da Associação Clóvis Francisco Constantino. Uma clínica especializada em saúde e segurança do trabalho apontou alguns aspectos que devem ser levados em consideração para que uma empresa suspeite da falsidade do atestado apresentado pelo funcionário, são eles:
•Atestados frequentes: É quando o empregado apresenta muitos atestados num curto período de tempo. Às vezes, o atestado não possui nenhuma imprecisão, mas a recorrência com que o funcionário apresenta atestados já pode levantar suspeitas por parte da empresa.
•CID incompatível: O CID é a Classificação Internacional de Doenças, um catálogo de doenças e problemas de saúde. Para cada doença, é atribuído um código, formado por uma letra e um número de 0 a 99. Quando o código relativo a determinada doença no CID é incompatível com a doença descrita pelo funcionário, a empresa pode levantar suspeitas.
•Rasuras ou mudanças no número de dias: Às vezes, o atestado apresentado pelo funcionário apresenta borrões ou alterações no local em que está o número de dias de afastamento. Um exemplo é o acréscimo de um "0" após o número "1", por exemplo. Quando isso acontece, as empresas colocam em xeque a veracidade do atestado.
•CRM errado: Todo médico ativo possui um número de inscrição no Conselho Regional de Medicina do estado onde atua. No caso de atestados médicos falsificados, os criminosos não costumam ser muito atentos aos detalhes e cometem pequenas imprecisões, como o número de inscrição errado. Pode acontecer também de o criminoso não incluir o estado do CRM. Em todos esses casos, os atestados são colocados sob suspeita.
A Secretaria Municipal da Saúde informou que o Dr. Wellington não faz parte dos profissionais da pasta. Esclareceu ainda que todos os funcionários são orientados a não disponibilizar qualquer documento em branco com logo das unidades, com risco de sofrer sanções administrativas. A Prefeitura de Embu das artes informou que o atestado citado na reportagem estava em nome de um instituto que não tem mais contrato com o município desde 2017. O oftalmologista José Wilson Gambier disse que informou à polícia e ao c-r-m sobre a utilização indevida do registro dele.